sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Entidades repudiam questionamentos de estudos sobre os riscos do uso de agrotóxicos

Foto: Renato Araújo/ABr

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Nacional do Câncer (Inca) reafirmam a validade científica do “Dossiê Abrasco – Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na Saúde”. As entidades afirmam que não aceitarão pressão daqueles que defendem o uso indiscriminado de veneno na agricultura.
Em carta divulgada na semana passada, as entidades fazem menção específica a Ângelo Trapé, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Eduardo Daher, diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).
O dossiê da Abrasco registra a preocupação de pesquisadores, professores e profissionais com a escalada ascendente do uso de agrotóxicos no Brasil. O documento fornece a relação de lucro combinado das empresas na venda de sementes transgênicas e venenos agrícolas, além de evidências de risco à saúde da população.
Em reportagem publicada no início deste mês em revista de grande circulação (Galileu nº 266, edição de setembro), Eduardo Daher declarou que há “viés ideológico” nos estudos que mostram os impactos dos agrotóxicos na saúde. Fernando Carneiro, pesquisador da Abrasco, rebateu as críticas.
“O conflito de interesses é evidente porque a primeira crítica mais contundente é do presidente do sindicato das empresas que produzem agrotóxicos, na maioria grandes multinacionais. Então todo o nosso trabalho afeta o negócio deles.”
Para Carneiro, o professor da Unicamp Ângelo Trapé, também citado na reportagem, agiu a favor dos interesses de empresas do setor de agrotóxicos que financiam pesquisas.
“A segunda crítica que a gente tem recebido da Unicamp, na verdade não podemos generalizar, é um professor da Unicamp, é o Ângelo Trapé. A Unicamp, a área liderada pelo professor Trapé, historicamente tem feito convênios com esse mesmo sindicato. Ou seja, eles recebem milhões de reais há vários anos para prestar serviços para esse sindicato e para essas empresas.”
Carneiro afirma que o “Dossiê Abrasco – Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na Saúde” abre novos caminhos na pesquisa científica brasileira.
“Esse dossiê é um marco na história de construção de uma ciência comprometida não com o capitalismo selvagem, mas com a saúde da população. Ele desnuda, evidencia os anos que o modelo hegemônico do agronegócio brasileiro tem levado a saúde da população brasileira.”
O pesquisador da Abrasco reitera que o dossiê lida com evidências baseadas em pesquisas e dados de órgãos oficiais do próprio estado brasileiro.
“Então, não se trata como a Andef que se trata de um discurso ideológico porque a gente tem evidências. Tanto que ele teve um impacto científico. Inclusive editoriais de revistas científicas, como a de Materno infantil de Pernambuco, do EMIB, que é uma revista altamente conceituada dizendo que o nosso dossiê é um marco na história da ciência brasileira.”
Na carta-resposta, intitulada “Uma verdade cientificamente comprovada: os agrotóxicos fazem mal à saúde das pessoas e ao meio ambiente”, as entidades agredidas destacam que sua produção de conhecimento científico é pautada pela ética e pelo compromisso com a sociedade e em defesa da saúde, do ambiente e da vida.
Um relatório apresentado pela Subcomissão Especial Sobre o Uso de Agrotóxicos e Suas Consequências à Saúde, instalada pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, mostra que os agrotóxicos representam um conjunto de problemas que afetam diretamente toda a população brasileira.  
A relação de risco entre agrotóxicos e os prejuízos à saúde fica mais evidente com a história do agricultor Luiz Bueno, de 50 anos, do Paraná. Em recente entrevista à Página do MST, ele relata como esteve perto da morte depois de aderir a esse modo de produção.
“Falo com segurança, sem medo de falar besteira, com formação técnica e como agricultor, de que o veneno não tem nada de bom para nos oferecer. Fui um agricultor que usei veneno, e com o uso do veneno se teve algo que consegui fazer foi me intoxicar e fazer dívida em banco. A minha dívida no Banco do Brasil, quando estava trabalhando com produção de batatinha, daria para comprar três carros zero quilômetro. Esse era o valor da minha dívida. Com isso, ganhei uma depressão, e somando o veneno mais o endividamento, por muito pouco não cometi suicídio.”
Desde 2008, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Em média, cerca de 5,2 litros de veneno por habitante ao ano são jogados nas lavouras do país.
Fonte: Radioagência NP,

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