quarta-feira, 8 de agosto de 2012

As novas leis são um perigo para a ordem natural das coisas!



 O delegado (D) avisando ao Coronel Jesuíno (C) que será investigado pelo assassinato. Foto:
Divulgação UOL.


Por Maciel Cover

No dia 7 de agosto de 2012 dois fatos aconteceram no Brasil e serão refletidos a seguir. O primeiro fato é sobre uma lei aprovada no senado federal que beneficiará muitos jovens pobres. O segundo fato foi o capitulo da telenovela Gabriela, baseado na obra do genial Jorge Amado. Os dois fatos tem um elemento comum: as leis prejudicam a ordem natural das coisas!

Todos sabem que universidade federal no Brasil não é pra pobre, nem pra negro e índio. As melhores universidades do país, sustentadas pelo dinheiro público, fruto dos impostos pagos em sua grande maioria pelos trabalhadores, devem garantir o ensino de qualidade para os filhos das classes que tem mais dinheiro. Essa é ordem natural das coisas. Foi assim desde o tempo em que o Coronel Ramiro Bastos mandava e desmandava em Ilhéus no começo do século XX.

Agora o senado aprovou a lei que estabelece que 50% das vagas das universidades federais sejam destinadas a jovens pertencentes a famílias que tenham renda até 1,5 salários mínimos. Demorou! Ainda falta a presidenta Dilma sancionar a lei para que venha a valer e partir do ano que vem, enfim, a maioria da população brasileira terá direito a metade das vagas nas federais.

A outra metade das vagas, é claro, continuará sendo destinada da mesma maneira que acontece nos dias atuais. Quem tem dinheiro para estudar em escola particular e depois em cursinho bacana tem mais chances de passar no meritocrático vestibular do que quem tem que trabalhar o dia todo e estudar a noite num colégio público. Essa seria a ordem natural das coisas.

Assim como era em Ilhéus. O Coronel Jesuíno foi traído por dona Sinhazinha, e para lavar sua honra matou sua esposa adúltera no momento em que ela estava na cama com o dentista garanhão. Honra se lava com sangue! Porém o delegado quer abrir um inquérito que pode prejudicar o Coronel Jesuíno. O delegado vem dizer que todos são iguais perante a lei, e que matar alguém por adultério não é legal. Isso tem consequências e o Coronel Jesuíno vai ser processado por assassinato. As novas leis são um problema para manter a moral e os bons costumes afirmou dona Dorotéia na novela; as novas leis são um perigo para a ordem natural das coisas.

Essa nova lei que o senado aprovou também é um problema. Tanto que o magnífico ex-reitor da Unicamp e atual diretor da FAPESP, o senhor Carlos Henrique de Brito Cruz, em entrevista ao Jornal Estado de São Paulo(1), afirma que essa lei "É uma usurpação da autonomia universitária, porque viola o direito de que cada instituição decida o modelo mais adequado, que tenha mais relação com a sua tradição de avaliar o mérito acadêmico". Segue algumas perguntas para este sabido professor.

1.Em nome do mérito acadêmico devemos continuar excluindo?
2.Essa tradição acadêmica beneficia a quem?
3.Autonomia universitária quer dizer deixar os pobres fora da universidade?

Previsível e portanto menos espantosa foi a declaração do senadorAloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), único a se posicionar contra o assunto, considera que essa lei trará "um abalo muito grande na qualidade de ensino das universidades federais, que já não andam bem”.

Será que ele quis dizer que os alunos oriundos de famílias mais pobres são menos inteligentes que os vindo de famílias mais ricas, e que, portanto para as coisas irem bem, para os méritos acadêmicos serem de qualidade, devemos manter apenas os filhos de quem tem dinheiro nas federais? Não creio que ele queira ter dito isso. Fosse na Ilheús de Gabriela uma frase clara como essa seria mais possível, mas hoje, no século XXI, acho que jamais um senador que representa o estado mais desenvolvido do país pensaria uma barbaridade dessas. Não, ele não quis dizer isso. Me desculpe senador Aloísio, pequei em pensamento contra vossa pessoa.

Tudo bem! É necessário que nossas universidades federais sejam de qualidade. Isso é consenso. Podemos refletir sobre duas possibilidades para melhorar o tal mérito acadêmico. Uma seria de investir mais nas federais: reajustar o salário dos professores e servidores de acordo com a inflação; estabelecer planos de carreiras; aumentar o número de vagas; investir  mais em laboratórios, bibliotecas, etc. Investir mais nas escolas públicas, para que os alunos saiam do ensino médio com melhor formação para o ensino superior.

Outra saída é excluir os pobres. Fechar os portões das universidades para os filhos de trabalhadores, negros, indígenas. E por mais absurda que pareça essa segunda proposta, ela é economicamente viável, é mais barata. Manteria o sistema universitário como meio de reprodução da ordem social, concentrando o capital educativo nas classes que tem mais capital econômico. Assim os recursos públicos que deveriam ir para a educação, se manteriam para alimentar os investimentos do BNDS e do vergonhoso sistema de amortização da dívida pública que inclusive mantém muitas famílias ricas, que talvez esse senador e esse ex-magnífico reitor queiram representar.

As leis prejudicam a ordem natural das coisas! Isso é bom! Quero ver no ano que vem os alunos com menor condição financeira nas melhores universidades do país. E também acho que o Coronel Jesuíno vai se ferrar por seu ato machista ter matado duas pessoas. Vamos ver no que vai dar!


Notas
(1) Notícia do Jornal Estado de São Paulo, 8 de agosto de 2012, disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,ex-reitor-da-unicamp-critica-projeto-de-lei-por-cotas-no-ensino-superior,912891,0.htm

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Por @macielcover



Dona Dorotéia está preocupada com as novas leis. Foto: Divulgação UOL



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