sexta-feira, 19 de julho de 2013

Livro do Pe. Gilberto - Juventude: Protagonismo e Religiosidade


Inovação, criatividade, realismo, utopia, conceitos abertos, valorização da sabedoria popular, da mística e do protagonismo juvenil, preocupação com os problemas sociais, abertura para novos horizontes e paradigmas, interesse pela socialização dos saberes acumulados pela humanidade, respeito pela diversidade cultural e pelas questões de gênero, intuitiva, afetiva e racional, crítica e ousada, defensora dos valores cristãos e humanitários, são os elementos fundamentais, constitutivos e característicos da nova obra do padre Dr. Gilberto Tomazi, Juventude: protagonismo e religiosidade, publicada neste mês de julho pela Editora Paulinas.
Gilberto Tomazi, 43 anos, Pedagogo, Teólogo, doutor em Ciências da Religião, professor universitário, Sacerdote Católico, pároco das paróquias São Pedro, de Pinheiro Preto e São Francisco de Assim, de Caçador, já publicou uma centena de artigos; é autor de três peças de teatro e do livro: “Mística do Contestado”.
Entrevista
  1. Padre Gilberto, qual a motivação ou a razão da escolha do título Juventude: protagonismo e religiosidade?
Essa obra fala sobre as diferentes realidades da juventude, articula de maneira criativa e dinâmica, elementos históricos, psicológicos, sociológicos, antropológicos e teológicos. Apresenta de maneira crítica, utópica e realista, uma nova forma de compreender a juventude. O Contestado (1912 a 1916) aparece como uma referência importante para os jovens e suas organizações na busca de outro mundo possível. Nesta obra, aparecem conexões entre jovens um passado remoto, com jovens modernos e contemporâneos, rebuscando-se, à moda da fênix, elementos capazes de fomentar novas reflexões, perspectivas e esperanças à juventude. Esta obra procura abrir os horizontes de uma nova mentalidade, que reconhece o valor da religiosidade e do protagonismo juvenil na edificação de uma nova sociedade, solidária, democrática, plural, sustentável, igualitária e fraterna, na qual caibam todos os jovens. Interessei-me por desvendar heranças culturais e religiosas, incorporar mitos, aspectos históricos, religiosos, existenciais e identitários dos jovens de outras épocas e povos cuja herança se faz, de alguma forma, presente hoje na realidade dos jovens catarinenses e brasileiros. Penso que esta oferece uma contribuição para a “juventudologia” ou “ciência da juventude”. É a partir da perspectiva sociorreligiosa, incorporando elementos históricos e antropológicos, que esta obra se desenvolve. Até hoje, a grande maioria das obras publicadas no Brasil sobre juventude, praticamente silenciam ou descartam a relevância da dimensão religiosa. A religiosidade da juventude não é compreendida nesta obra como algo fantasioso, mas como aquilo que comporta símbolos, significados e dá sentido para a vida de pessoas e de grupos; como algo que foi sendo inventado, recebido, aceito, vivido e ressignificado histórica e culturalmente. Falar de religiosidade aqui, significa possibilitar uma ruptura com relação ao real, ao vivido, e uma abertura em relação ao possível, ao desejado, ao utópico.
  1. Juventude e sociedade. Qual é a questão fundamental que a obra reflete na relação entre juventude e sociedade?
O ponto de partida do quadro teórico insere a seguinte questão: é possível uma sociedade e uma juventude onde caibam todos os jovens? Por mais que tenha havido tentativas nesse sentido, pode-se dizer que ainda não há nem uma sociedade e nem uma juventude para todos os jovens. A sociedade permite que apenas uma parcela de sua juventude possa viver como tal e, em relação à construção teórica do conceito de juventude, não existem critérios exclusivos e suficientes para uma definição completa dela. Existem muitos constructos teóricos sobre jovens, juventude e juventudes, mas estes ainda não vieram a se constituir numa teoria geral da juventude.
  1. Você segue um pensamento marxista ou culturalista? O que é mais forte em sua obra, elementos econômicos, políticos, culturais ou religiosos?
Se não fossem as insistentes reformas do assim chamado “neo” marxismo, aquele mais tradicional teria perdido a sua relevância, especialmente para a intelectualidade pós-moderna. A fábrica, o sindicato e o partido político já não são locais ou espaços mais importantes para os jovens que buscar transformar o mundo. Na atualidade crescem as parcerias entre diferentes entidades da sociedade civil na busca de objetivos mais pontuais e de mudanças sociais mais amplas. Sociedade, cultura, arte e religião ganham mais espaços, entre os jovens na atualidade, que os da política e da economia. Os textos de Marx e dos marxistas ortodoxos se tornaram insuficientes, eles não consideraram a relevância das questões de gênero, de etnias, de religiões, crenças e religiosidades, de comunidades, tribos e grupos diversos, da linguagem, de signos, sinais, sonhos e do corpo, entre outras.  Então, nesta obra valoriza tudo isso e expressa a complexa dinâmica da construção histórica.
  1. Como esta obra apresenta o protagonismo Juvenil? É possível afirmar com segurança que os jovens são protagonistas de uma nova sociedade?
Ao tratar do protagonismo juvenil, parte-se do pressuposto de que, semelhante à época da Guerra do Contestado, os caras-pintadas e agora com todas as manifestações sociais e juvenis, sempre houve uma insatisfação ampla das pessoas e, especialmente, dos mais pobres e de uma parcela significativa da juventude, em relação à realidade do seu tempo. Na atualidade, essa insatisfação vem acompanhada de uma descrença nas formas de política e no sistema econômico estabelecidos como solução para os problemas sociais, bem como de uma crença de que os jovens não são apáticos e alienados mas, sim, capazes de procurar não apenas contribuir nos processos de solução dos problemas sociais, como também de “combater/lutar na primeira fila, ocupando o primeiro/principal lugar”. O protagonismo sugere que há um espaço ou um cenário público onde acontecem disputas, lutas ou jogos, também, uma nova forma de fazer política, que aglutina um número relativamente significativo de jovens tidos por novos atores sociais. Então, por mais que alguns insistam mais no protagonismo juvenil, não se pode negar que os jovens são, além de sujeitos da história, também resultado de todo um processo de desenvolvimento sociocultural e histórico, no qual eles interagem, modificando-o e sendo modificados por ele. É em meio a um amplo emaranhado de conflitos, diálogos, agrupamentos e participações sociais que jovens se percebem atores sociais e protagonistas, também, de uma nova sociedade que, por sua vez, significa a continuidade desta mesma sociedade, antecipando-lhe, porém, o futuro possível e sonhado. Tal protagonismo que visa a construir uma nova sociedade não segue um único caminho, não se ocupa de uma única perspectiva ideológica, não tem em vista uma forma de organização centralizada, não tem um projeto consolidado e detalhadamente planejado; comporta a dimensão religiosa, mas não uma espécie de messianismo juvenil; a valorização da juventude e a exaltação de suas capacidades fazem com que ela deixe de ser um “problema” e a tornam “solução”, porém, isso não significa que a tornam um deus; as mudanças que ela oferece, em muitos casos, podem passar despercebidas; são lentas, ambíguas, virtuais, pouco planejadas e sistematizadas. Mesmo sozinho e desempoderado, o jovem exerce certo protagonismo, porém é nos grupos que acontece a integração social e um processo de socialização maior, de superação do individualismo e de operacionalização, aprendizagem e exercício do poder.
  1. Mística, experiência fundante, utopia, religiosidade e cultura são palavras que ganham importância e aparecem interligadas em sua obra. Qual a relação entre elas?
Michel de Certeau falou da mística como a procura de uma linguagem dialogal do “eu” para o “tu” dentro de um mundo repleto de discursos autoritários e, como uma aprendizagem na arte de escutar o “outro” num mundo que só quer falar, convencer e doutrinar. A mística não visa constituir um conjunto particular de enunciados articulados segundo os critérios de uma verdade, mas procura falar a linguagem comum, a que todos falam, não a linguagem técnica das disciplinas. Daí pode-se deduzir o caráter popular e, até mesmo, subversivo da mística, pois ela se apresenta numa espécie de polarização ou oposição em relação à linguagem do poder de dominação e manipulação vigentes numa dada sociedade. É nessa mesma perspectiva que se pode afirmar que há uma sabedoria popular, onde os pobres, os excluídos ou os “últimos” educam, ensinam os demais. Dentro da dimensão mística, a religiosidade e a utopia aparecem como referências da busca de novos sentidos e novos paradigmas da juventude na atualidade. Há uma motivação profunda que hoje move os jovens descendentes do Contestado e dinamiza sua ação na busca de uma vida melhor. Há uma mística que sustenta a esperança e fortalece a luta e a organização popular de muitas pessoas, grupos e comunidades do Contestado.
  1. Ao que parece, a tua obra apresenta uma interface sobre juventude, desde as suas referencias históricas e culturais, tendo como um dos elementos importantes a participação dos jovens na guerra do Contestado. O caminho percorrido pela obra vai do concreto ao abstrato ou parte de teorias para entender as realidades juvenis da atualidade?
Oferecemos, nesta obra, uma interface da juventude, um caminho de acesso a jovens. As heranças culturais e religiosas de jovens aqui apresentadas se constituem em elementos que dão certa visibilidade à realidade, à história e aos mitos sobre jovens. A interface, aqui apresentada, é parte de uma realidade muito mais ampla e complexa, escondida atrás das palavras, porém estas palavras abrem caminhos para que essa realidade possa ser, progressivamente, encontrada por pessoas que assim o desejarem. Logo, esta obra é uma ferramenta dentro de um vasto sistema de informações sobre jovens. Diversas experiências, pesquisas e iniciativas são, de alguma forma, aqui interconectados. A obra tem como ponto de partida a realidade de jovens descendentes do Contestado, procura oferecer subsídios de interação e de comunicação entre diferentes jovens ou grupos de jovens da atualidade, conectando-os, de alguma forma, a experiências vividas por jovens no passado, abrindo assim perspectivas ou, ao menos, esperanças de edificação de um futuro melhor.
  1. Juventude ou jovens? Alguns pesquisadores preferem focar o seu olhar nos jovens e outros costumam falar de Juventude. Como a tua obra aborda esses dois conceitos?
Não apresentamos uma opção excludente entre juventude e jovens. São dois conceitos que se somam, pois o primeiro se refere mais a uma fase da vida ou a um ciclo de vida que se define pela cultura e conforme uma determinada estruturação social e que tem um sentido mais abstrato e generalizado, enquanto que o segundo se refere mais a uma parcela específica da juventude, tida como sujeito social concreto, capaz de estabelecer relações entre si e com outros processos históricos, institucionais ou conjunturais.
  1. A Juventude pode ser definida como uma faixa etária?
Por mais que os limites etários possam ser considerados arbitrários devido à possível incongruência que existe entre esse critério e o da idade social, a delimitação da faixa etária tem sido um dos critérios usados para definir a “juventude”. Geralmente, esse conceito está mais presente nas pesquisas promovidas por instituições nacionais e internacionais de contagem populacional. No estatuto da Juventude, do Brasil, entende-se que a Juventude compreende uma faixa etária que vai dos 15 aos 29 anos. Todavia vale lembrar que, muito mais que questões de faixa etária, a juventude aparece como uma construção histórica, social e cultural, com fronteiras móveis, tecida num processo de mutação dinâmico e permanente dinâmico.
  1. Enfim, para concluir, como você avalia o debate e os estudos sobre Juventude nos últimos anos?
O tema juventude tem ganhado muito espaço nos últimos anos. O início deste período de maior interesse pela juventude foi em 1985, com o “Ano Internacional da Juventude”, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e reforçado, uma década depois, com o Programa de Ação Mundial para Jovens (PAMJ), em 1995. A partir disso, a temática da juventude ganhou mais expressão na mídia, nas universidades, nas organizações sociais e também nas religiões. O aumento da população juvenil na América Latina, no final do século passado, foi outro elemento importante nesse cenário. Atualmente as mobilizações sociais e juvenis e também a Jornada Mundial da Juventude, no Brasil, voltaram a colocar em pauta a Juventude. A aprovação do Estatuto Nacional da Juventude ajudará os jovens a se organizarem e Conselhos Municipais e apresentarem as duas demandas, exigindo políticas públicas para a juventude.
O livro pode ser adquirido pelo endereço giltom3@gmail.com ou pelo fone: 49 84272209 (Pe. Gilberto) ou ainda pela Paulinas.

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