O registro da primeira morte por varíola dos macacos no Brasil, confirmado nesta sexta-feira (29) pelo Ministério da Saúde, acendeu um alerta quanto à importância de aumentar os esforços individuais e também institucionais para conter a doença no país. O contágio da varíola dos macacos ocorre quando alguém tem contato próximo com lesões de pele, secreções respiratórias ou objetos usados por uma pessoa que está infectada. Mas os cuidados para se proteger da infecção não são muito diferentes dos exigidos para evitar a covid-19.
Até o momento, a doença está confirmada em mais de 16 mil pacientes espalhados por 74 países. No Brasil, o Ministério da Saúde já detectou 1.066 casos da doença, conforme balanço desta sexta. O país também é primeiro a relatar um óbito em decorrência da varíola dos macacos fora do continente africano. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), outros há registros de outros cinco óbitos na região. Três deles na Nigéria e outros dois na República da África Central.
O que se sabe, contudo, é que a varíola dos macacos tem baixa letalidade e se manifesta de forma leve. Os principais sintomas incluem febre, dor e o aparecimento de lesões e feridas em algumas partes específicas do corpo. Pessoas especialmente vulneráveis como imunossuprimidos com HIV fora de controle, leucemia, linfoma, cânceres metastáticos e transplantados, correm maior risco, porém, de desenvolver quadros graves da infecção.
O que se sabe
No caso da vítima brasileira, ele seria um homem, de 41 anos, que morava na cidade Uberlândia, em Minas Gerais. Em nota, a Saúde informou que ele tinha “imunidade baixa e comorbidades, incluindo câncer (linfoma)”. O quadro, segundo o ministério, levou ao agravamento da doença. “O paciente foi hospitalizado em um hospital público em Belo Horizonte, sendo direcionado ao CTI. A causa de óbito foi choque séptico, agravada pelo Monkeypox (varíola dos macacos)”, declarou a Saúde.
A doença, causada pelo vírus monkeypox, pertence à mesma família do vírus da varíola humana que, em 1980, foi declarada erradicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Nos dois casos, as vacinas são a principal forma de prevenção. A OMS atestou em estudos observacionais que o imunizante que protege contra a varíola humana tem efetividade de 85% contra a varíola dos macacos.
Há ainda, segundo informações da BBC News Brasil, um imunizante mais recente contra a atual versão da doença, feita a partir do vírus atenuado modificado em laboratório. A vacina requer um esquema de duas doses e já está aprovada em alguns lugares desde 2019, mas a disponibilidade ainda é bem limitada. Mas há lugares, como o Reino Unido, que já vêm aplicando. Inicialmente as doses estão disponíveis para indivíduos que tiveram contato próximo com alguém diagnosticado com a doença e homens gays, bissexuais ou que fazem sexo com outros homens.
Surto no Brasil
A OMS também vem recomendando a vacinação desses grupos onde há transmissão comunitária da monkeypox, o que já seria o caso do Brasil. Mas autoridades em saúde avaliam que a reação do governo de Jair Bolsonaro (PL) vem sendo lenta com relação ao avanço da doença em território nacional.
O grupo de risco também inclui profissionais de saúde que estão lidando com casos suspeitos ou confirmados, profissionais de laboratórios e pessoas que fazem sexo com múltiplos parceiros. O vírus não está descrito como infecção sexualmente transmissível, mas já se sabe que, por conta do contato pele a pele, pode haver contágio durante relação, independentemente da orientação sexual das pessoas envolvidas. Conforme reportou a RBA, de acordo com o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), ex-ministro da Saúde, há meses os especialistas cobram da pasta a apresentação de um plano de contingência.
O Ministério da Saúde anunciou que está negociando a compra de vacinas contra a varíola. O Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também estudam a possibilidade de fabricar doses nacionais. Mas falta agilidade do governo federal, na análise do médico oncologista Drauzio Varella a GloboNews. “O ministério tem que agir ativamente para conseguir vacina, as poucas que existem no mundo. E, como nós vimos para a covid, nosso ministério não é muito ativo nessa área.”
Como se proteger
Além da vacina, há cuidados individuais que podem a adotar. Entre eles, a higienização constante das mãos com álcool 70% ou água e sabão. Embora a contaminação por vias aéreas seja menos provável, usar máscara também ajuda na prevenção. Usar roupas com manga comprida e calças compridas também trazem proteção principalmente em ambientes compartilhados, como transporte público ou carros de aplicativo.
O vírus também pode se espalhar pelo contato com lençóis, roupas e toalhas de alguém contaminado. As autoridades sanitárias também recomendam que se diminua o número de parceiros sexuais e que se observem coceiras ou lesões na pele que pareçam incomuns, principalmente na região anal e genital. De acordo com a OMS, o período de incubação do vírus – o empo que leva para ele invadir as células e o aparecimento dos primeiros sintomas – costuma variar de 6 a 13 dias, mas pode chegar até a 21 dias.
Em até cinco dias após os primeiros sintomas, há um segundo momento da doença em que aparecem feridas na pele. Essas lesões cutâneas tendem a se concentrar nas extremidades do corpo e são mais frequentemente encontradas nas genitálias. As marcas podem variar de pacientes para pacientes. Há quem apresente poucas a quem tenha muitas. Outras formas de prevenção envolvem vigilância e isolamento, além de identificação rápida de novo. Nesse caso, pacientes também criticam a condução do Ministério da Saúde. “Não há nenhuma divisão no atendimento para as pessoas com varíola do macaco. As pessoas com a doença entram e circulam livremente pelo hospital. Não senti que estão preparados”, denunciou um homem infectado à BBC News Brasil.
Fonte: RBA
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