Foto: Mauricio Vieira / Arquivo / Secom
A volta às salas de aula encontrará resistência no Brasil. Pesquisa do Ibope encomendada pelo GLOBO mostra que para 72% dos entrevistados os alunos só devem retornar presencialmente às escolas depois que uma vacina para o novo coronavírus estiver disponível.
O levantamento foi realizado entre os dias 21 e 31 de agosto, pela internet, com 2.626 brasileiros com mais de 18 anos e das classes A, B e C.
Atualmente, apenas o estado do Amazonas já liberou o retorno presencial às escolas. São Paulo e o Rio Grande do Sul seguem a mesma medida a partir de amanhã. Rio de Janeiro, Piauí, Pernambuco e Pará também já têm datas marcadas que vão do próximo dia 14 até outubro.
Todos possuem planos para a volta de forma escalonada e com medidas de prevenção. O Acre, de acordo com levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), está em fase de planejamento. E os outros 19 estados não têm data definida.
Na pesquisa Ibope, 54% concordam totalmente com a afirmação de que o retorno dos alunos à sala de aula deve ocorrer somente quando houver uma vacina; outros 18% concordam parcialmente”; 12% não concordam, nem discordam. Outros 7% discordam parcialmente; 6% discordam completamente; e 3% não souberam responder.
O Sul é a região onde há mais resistência da volta às aulas antes da vacina. Lá, 77% concordam com a afirmação. Nas capitais do Rio e de São Paulo, são 74% e 71%, respectivamente. Dos que se declararam de esquerda, 87% só querem a volta às aulas após a vacina. E os entrevistados de direita também majoritariamente concordam com a afirmação: o índice é de 60%.
Para Márcia Cavallari, CEO do Ibope Inteligência, a diferença de mais de dois dígitos, no entanto, mostra que o debate sobre o retorno às aulas foi contaminado pela polarização ideológica.
— Não houve uma orientação única nesse sentido, durante a pandemia. Os números são consequência das discussões sobre adoção de medidas de maneira distinta por governadores e o presidente Bolsonaro— afirma a estatística e cientista social.
Em manifesto, ONU elenca prejuízos de ter escolas fechadas
O problema central da abertura das escolas é a própria contaminação de alunos, responsáveis, professores e profissionais da educação. Uma pesquisa da Escola Médica da Universidade Harvard (EUA), uma das mais conceituadas do mundo, concluiu que o potencial de disseminação do novo coronavírus pelas crianças foi largamente subestimado nos últimos cinco meses da pandemia.
Os pesquisadores apresentaram evidências de que crianças podem ser mais contagiosas do que adultos, inclusive aqueles em quadro severo da doença, ainda que apresentem sintomas mais leves.
Por outro lado, a inatividade dos colégios acarreta, segundo a ONU, altos custos sociais e econômicos para estudantes, pais, professores e profissionais de diversas áreas. “Seu impacto é particularmente grave para os mais vulneráveis e marginalizados, assim como para suas famílias”, afirma a organização.
Entre os problemas apontados pela ONU estão: aprendizagem interrompida, que pode aumentar desigualdades educacionais; má nutrição das crianças; pais despreparados para a educação à distância, falta de ambiente e/ou equipamentos adequados; e aumento das taxas de evasão escolar.
— No sistema público de educação, especialmente, a escola é o espaço mais seguro e muitas vezes o único possível onde estudar. Há muitos estudantes em situação de rua e uma quantidade maior ainda em domicílios que, além de não terem espaço físico para o estudo, não oferecem tranquilidade e segurança aos alunos — afirma Catarina de Almeida Santos, professora da UnB e pós-doutoranda em Educação pela Unicamp.
Mas os brasileiros estão longe de serem os únicos a refletirem sobre o dilema. Segundo a Unesco, 42% dos alunos no planeta estão em casa. Esse índice chegou a 90%, em abril. Praticamente todos os países debatem quando e como devem retomar as atividades “normais”.
Dezenas de milhões de alunos, a maioria usando máscaras faciais, voltaram aos colégios em setembro na França, Bélgica, Polônia, Espanha, Grécia e Rússia. Esse é o mês de reinício do ano letivo na Europa, que, no entanto, se debate com crescimento de novos casos em vários países.
Nas escolas, alunos e professores vivem sob o temor de todas precauções sanitárias não sejam capazes de evitar uma segunda onda de Covid-19.
Geração em risco
A maioria dos governos europeus, entretanto, concluiu que o maior risco é o de uma geração de crianças perder o ensino presencial crucial. E a de que aulas on-line não sejam uma realidade com a maioria dos pais trabalhando fora.
Na França, no entanto, 22 escolas já foram fechadas devido a casos de Covid-19, poucos dias depois que cerca de 12 milhões de alunos voltaram às aulas, na última terça-feira.
Um estudo liderado pela Universidade de Londres, que busca orientar a retomada das aulas no Reino Unido, aponta que a reabertura de escolas à medida que a pandemia desacelera pode ser feita com sucesso, mas requer testagem e rastreamento da maioria dos contatos dos infectados.
A publicação do grupo Lancet dedicada a crianças e adolescentes divulgou também os resultados de um estudo que monitorou 24 escolas na Austrália. O país não chegou a fechar os estabelecimentos por ter sido menos afetado pela epidemia. Mas, para não fazer das escolas centros de disseminação do novo coronavírus, foram implementadas medidas de contenção mais rígidas.
“A testagem efetiva e as estratégias para lidar com os contatos dos casos da doença foram associadas a baixos números de infectados presenciais. Assim, crianças e professores não contribuíram significativamente para a transmissão do vírus”, escreveram os especialistas, liderados pela pediatra Kristine Macartney, da Universidade de Sydney. (O Globo).
Fonte: Agência Brasil
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