Em tempos de pandemia, é importante manter a serenidade, silenciar, observar, cuidar. Nada de emitir opiniões envenenadas e carregada de ódio.
O modo de celebrar a liturgia, deve ser o modo de entender o amor fraterno, a solidariedade, expressão bonita da fé autêntica. Por isso, é importante entender o espírito da música na liturgia. Não pode ser de qualquer jeito, para qualquer cântico.
É preciso valorizar a Palavra, é preciso dar ritmo ao rito na liturgia. Por isso, é importante conhecer a origem do rito na liturgia.
Diz Ratzinger em teologia da liturgia: “Para muitos hoje, a palavra “rito” não soa bem. “Rito” aparece como expressão de rigidez, de vínculo a formas prefixadas; a ele se contrapõem a criatividade e a dinâmica da inculturação. Somente, graças a estas, nasceria uma liturgia viva em que a respectiva comunidade possa exprimir a si mesma. Antes de afrontar a questão aqui levantada devemos, em primeiro lugar, dar-nos conta daquilo que seja, efetivamente, o rito na Igreja, quais ritos existem e como se relacionam entre si. O jurista romano (não cristão) Pompônio Festo, no segundo século, definiu o rito como “uso comprovado na administração dos sacrifícios”. Desse modo, ele expressou em uma fórmula precisa uma realidade que é própria da inteira história das religiões: o homem está sempre em busca do modo correto de honrar a Deus, de uma forma de oração e de culto comunitário que agrade ao próprio Deus e seja conforme à sua natureza. Nesse contexto, pode-se recordar que a palavra “ortodoxia”, originariamente, não significa, como hoje quase geralmente se pensa, “reta doutrina”; a palavra ‘doxa” significa em grego, por um lado, “opinião”, “conjectura”; por outro, na linguagem cristã vem, pois, usada no sentido de “verdadeiro esplendor”, ou seja: glória de Deus. De acordo com isso, ortodoxia significa o modo correto de glorificar a Deus e a reta forma de adoração. Nese sentido, a ortodoxia é, por sua natureza, “ortopráxis”; o contraste moderno entre os dois termos, se resolve por si mesmo na sua origem. Não se trata de teorias sobre Deus, mas do caminho correto para encontrá-lo. Aparece, então como um grande dom da fé cristã o poder, agora saber qual seja o culto correto, de que modo se glorifica verdadeiramente a Deus – na participação orante e na partilha do caminho pascal de Jesus Cristo, no tomar, plenamente, parte da sua “Eucaristia”, em que a encarnação conduz à Ressurreição – no caminho da Cruz” (CIC, p. 129). Então o caminho é a vida cheia de amor e de serviço pela salvação da humanidade que se contempla no rito que agrada a Deus. A expressão comunidade conduz para o sentido mais pleno e universal ao qual o rito garante a dimensão fraterna e solidária do modo dos fiéis celebrarem os mistérios da vida e ressurreição de Jesus Cristo.
Vivemos num tempo do individualismo, da autossatisfação, da perda do sentido do sagrado. Tudo isso traz prejuízos para uma liturgia dinâmica, correta, sóbria e serena. Procuramos encontrar Deus em Jesus Cristo, pela força do Espírito Santo na liturgia, espaço sagrado para a comunhão e amor fraterno. Não podemos imaginar que a fé cresça, sem a participação comunitária, lugar sagrado da revelação de Deus. A celebração é a entrega da vida humana na vida divina. Celebrar é cultivar, é se aproximar, é confirmar, é buscar na misericórdia divina os caminhos para a superação das nossas deficiências e carências humanas. Por isso, exige disciplina, retidão e coerência. Não se deixa levar pelas próprias vontades sobrepor sobre a verdade comprovada e experimentada pelos místicos, pela inspiração divina na Igreja no cultivo da prece ao Deus verdadeiro.
Que Nossa Senhora nos ensine o culto verdadeiro, pela fé autêntica simples para juntos chegarmos a Deus. Enquanto isso, temos a missão de transformar esse mundo no espaço onde possamos perceber sinais do Reino de Deus entre nós. O rito deve nos conduzir para essa manifestação e levar a visibilidade do Reino de Deus no mundo.
Dom Severino Clasen
Bispo Diocesano de Caçador
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