A identificação de quadros graves da Covid-19 é tão necessária quanto imprevisível. O projeto de Franciele de Matos Morawski, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Química da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mostra resultados promissores na realização de prognósticos que antecipam se o paciente irá desenvolver um quadro grave da doença. O projeto, intitulado Eletrodo biocompatível e biodegradável aplicado ao monitoramento de pacientes infectados com COVID-19, recebeu o prêmio de primeiro lugar na edição do Tech Women Paper Contest 2021 – Soluções e Inovação de Tecnologia em Sustentabilidade.
O método elaborado por ela é parecido com um glicosímetro: utiliza-se uma gota de sangue em contato com o sensor, que identifica por meio de correntes os níveis de interleucina-6 (IL-6) no sangue do paciente. “Os estudos têm demonstrado que os pacientes internados com Covid-19 apresentam uma elevação da interleucina-6 no sangue, principalmente quando eles evoluem para casos mais graves. Quando o paciente é internado, você conseguiria fazer uma avaliação desses níveis de interleucina-6 de uma maneira rápida e barata, com um sensor que possibilita o monitoramento da proteína em tempo real e, a partir disso, auxiliar a equipe médica para tomar decisões sobre manter o paciente em observação e fazer um maior acompanhamento”, afirma a pesquisadora.
O sensor é de fácil fabricação, além de ser biocompatível e biodegradável. Foram utilizados na sua construção a quitosana, proveniente da casca dos crustáceos, e um outro agente ligante verde para realizar a imobilização de um anticorpo no eletrodo, que irá reagir proporcionalmente com a quantidade de proteína IL-6 no sangue do paciente, o que garante uma alta eficiência. O prognóstico é disponibilizado em cerca de meia hora. “Os testes que temos disponíveis hoje não conseguem satisfazer as necessidades da equipe médica para conseguir visualizar o quadro e ministrar os remédios. Por exemplo, há um remédio que inibe o IL-6, que tem se mostrado promissor contra o Covid, que custa em média R$ 7 mil, mas se você não sabe se o paciente tem um nível elevado dessa proteína, não tem por que aplicar. Então, é preciso ter esse mapeamento: e só com um sensor em tempo real você consegue perceber”.
Esse mapeamento pode ser utilizado em pacientes positivados e que apresentam sintomas da doença. Inicialmente, o projeto, que começou a ser planejado em 2018, tinha como objetivo traçar o aumento do biomarcador inflamatório IL-6 como um biomarcador de câncer. Mas a proposta se tornou promissora para combater o coronavírus. Além de apresentar resultados mais rápidos do que o método ELISA – que se baseia em reações antígeno-anticorpo- , a utilização do eletrodo também é mais barata.
Com a aprovação do Comitê de Ética, o trabalho passa para a etapa científica final, em que será realizada uma parceria com o Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC), para comparar amostras de pacientes dosando a proteína IL-6 com os dois métodos citados.
O desenvolvimento da pesquisa de Franciele ocorreu sob orientação da professora Cristiane Jost, em parceria com o professor André Bafica do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC, para desenvolver o trabalho aplicado na área de diagnóstico clínico. A partir dessa parceria, e em conjunto com a pós-doutoranda Greicy Dias, foi possível realizar os testes, ensaios clínicos e validação da pesquisa.
Durante a premiação da edição do Tech Woman Paper Contest, Franciele reconhece a importância de ter realizado seu trabalho sob orientação e colaboração de mulheres, demonstrando sua admiração e inspiração pelas participantes do evento. “Eventos que incentivam esse tipo de iniciativa e premiam mulheres que estão trabalhando com pesquisa e se dedicando acabam dando uma nova perspectiva para o nosso trabalho, como se fosse um combustível para continuar”.
Fonte: Ufsc
Nenhum comentário:
Postar um comentário