Ao mesmo tempo em que as áreas de atuação da empresa Siemens crescem na América Latina, aumentam os números de terceirização nas fábricas e os índices de baixos salários. O apontamento é feito pela pesquisa Condições de Trabalho Decente na empresa Siemens em países selecionados da América Latina, realizada ao longo de 2012 e 2013 na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai, e apresentada na quinta-feira, 6, em São Paulo, durante o 1º Encontro Regional de Sindicatos e Trabalhadores e Trabalhadoras da Rede Siemens.
A pesquisa, realizada pela Rede Latino-americana de Pesquisa em Empresas Multinacionais (RedLat), ouviu cerca de 300 trabalhadores nos sete países estudados. Os estudos fazem parte de um projeto de incentivo aos direitos dos trabalhadores na América Latina, da central sindical alemã Deutscher Gewerkschaftsbund (DGB). No Brasil, as pesquisas foram realizadas pelo Instituto Observatório Social e mostraram que, ao mesmo tempo em que as áreas de atuação da empresa se expandem, crescem também as preocupações com o trabalho decente dentro das plantas.
“O debate do trabalho decente na Siemens na América Latina é um desafio para nós, pesquisadores, trabalhadores e sindicalistas, porque temos condições bastante diferentes nos países pesquisados”, afirmou o presidente do Instituto Observatório Social, Roni Barbosa. “Acreditamos que o conhecimento é a base para construção de um debate e de um avanço nas condições de trabalho. Esperamos que esta pesquisa possa melhorar a relação com a empresa na Alemanha em busca de solucionar os problemas graves registrados nas condições de trabalho na Siemens na América Latina”, completou.
Para o representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, Everaldo dos Santos, a pesquisa vem em um momento favorável no Brasil, onde os trabalhadores têm conquistado cada vez mais espaço nas discussões sociais. “Os sindicatos conquistaram espaço importante nos debates e hoje conseguem colocar suas reivindicações nas pautas da sociedade. Ainda há muito que se fazer, mas conseguimos avançar muito, inclusive em conversa com empresas multinacionais”, ressaltou.
O representante da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Ubirajara Freitas, lembrou que a Siemens está hoje em uma situação delicada no Brasil, depois das denúncias de envolvimento em formação de cartel nos sistemas de trem e metrô em São Paulo. Para o sindicalista, a situação reforça a necessidade de diálogo. “Assim como vimos em diferentes países da América Latina, o capital da Siemens no país leva à uma situação de exploração de mercado e de trabalhadores. Por isso, o momento é importante para a criação de uma rede de trabalhadores que possa atuar em diferentes países e que leve ao diálogo social”, reforçou.
A intenção da criação da rede de trabalhadores, de acordo com o diretor do escritório regional da DGBBW, Niklaas Hofmann, é que ela incentive a ação local, a começar pelos sete países estudados, e se amplie em todo o mundo. “A pesquisa realizada permite o início da atuação local dos trabalhadores e o diálogo com a empresa. Isso pode ser o ponto de partida para a atuação mundialmente. Por isso, entendemos que esta pesquisa é um passo à frente no processo de sindicalismo internacional.”
Terceirização preocupante
Quando a Siemens instalou suas primeiras fábricas na América Latina no início do século XX, as atividades da empresa limitavam-se a serviços de telecomunicações e fabricação e operação de geradores e motores elétricos. Em pouco tempo, as operações começaram a se tornar mais diversas e hoje alcançam desde mineração, fabricação de lâmpadas e componentes de vidro a produção de equipamentos da área médica. Com a ampliação de mercado, cresceram junto os problemas trabalhistas. Hoje, o mais preocupante deles diz respeito a uma tendência em busca do aumento da produção: a terceirização de trabalhadores dentro das fábricas e a oferta de baixos salários.
A situação que mais chama a atenção dos pesquisadores está entre os trabalhadores do Uruguai e do Peru. No Uruguai, a produção de componentes elétricos é concentrada majoritariamente em empresas terceirizadas. Destas, 60% são empresas formadas por até cinco trabalhadores. Cerca de 70% dos prestadores de serviço são mulheres e, apensar de pouco mais da metade ser sindicalizada, não há uma convenção coletiva que defina os salários dos trabalhadores.
No Peru, não há um sindicato que represente os trabalhadores da Siemens – a falta de sindicato também se repete na Colômbia. As normas de saúde e segurança e as convenções salariais alcançam apenas os trabalhadores contratados. Entre os terceirizados, não há empresa contratante com certificação internacional de segurança, e a jornada de trabalho de 8 horas diárias raramente é cumprida.
No Brasil, a principal preocupação está relacionada às condições de saúde e segurança. Os problemas de saúde mais comuns entre os trabalhadores são lesão por esforço repetitivo, estresse e surdez. Alguns dos trabalhadores entrevistados afirmaram que chegaram a trabalhar doentes com medo de serem prejudicados.
Confira a seguir os principais pontos revelados pela pesquisa:
Brasil
28% dos trabalhadores são mulheres
38% de todos os funcionários da empresa possuem nível superior de ensino
50% dos terceiros não têm ensino fundamental
O piso da categoria é de US$ 612, quase o dobro do salário mínimo nacional
Todos os entrevistados estão há mais de 10 anos na empresa
28% dos trabalhadores são mulheres
38% de todos os funcionários da empresa possuem nível superior de ensino
50% dos terceiros não têm ensino fundamental
O piso da categoria é de US$ 612, quase o dobro do salário mínimo nacional
Todos os entrevistados estão há mais de 10 anos na empresa
Argentina
24,5% mulheres
Mais de 50% dos entrevistados com nível técnico
Salários variam de US$ 732 a US$ 1480 mensais
43% dos trabalhadores disseram estar insatisfeitos e já terem buscado trabalho em outras empresas
70% disseram estar dispostos a mudar de trabalho
14% dos entrevistados sofreram algum acidente de trabalho
24,5% mulheres
Mais de 50% dos entrevistados com nível técnico
Salários variam de US$ 732 a US$ 1480 mensais
43% dos trabalhadores disseram estar insatisfeitos e já terem buscado trabalho em outras empresas
70% disseram estar dispostos a mudar de trabalho
14% dos entrevistados sofreram algum acidente de trabalho
Chile
90% dos entrevistados são homens
Média de 40 anos, com formação técnica
Salário médio de US$ 1164, mais que o dobro do salário mínimo nacional
17% trabalham 8 horas diárias, mas as jornadas chegam a 12 horas de trabalho diárias
30% são trabalhadores temporários
75% são sindicalizados
35% afirmam que há demissões não justificadas na empresa
15% dizem que há discriminação na empresa
90% dos entrevistados são homens
Média de 40 anos, com formação técnica
Salário médio de US$ 1164, mais que o dobro do salário mínimo nacional
17% trabalham 8 horas diárias, mas as jornadas chegam a 12 horas de trabalho diárias
30% são trabalhadores temporários
75% são sindicalizados
35% afirmam que há demissões não justificadas na empresa
15% dizem que há discriminação na empresa
Colômbia
66% homens com idade entre 18 e 39 anos
53% têm ensino médio completo
Média salarial entre US$ 312 e US$ 624 mensais
75% trabalham entre 6 e 8 horas por dia
43% dos entrevistados afirmaram ter feito de 11 a 14 horas extras no mês anterior à pesquisa
35% dizem não receber nenhum tipo de formação na empresa
58% dos entrevistados foram contratados há menos de 3 anos
10% foram vítimas de algum comentário hostil no ambiente de trabalho
Não há uma organização sindical que represente os trabalhadores
66% homens com idade entre 18 e 39 anos
53% têm ensino médio completo
Média salarial entre US$ 312 e US$ 624 mensais
75% trabalham entre 6 e 8 horas por dia
43% dos entrevistados afirmaram ter feito de 11 a 14 horas extras no mês anterior à pesquisa
35% dizem não receber nenhum tipo de formação na empresa
58% dos entrevistados foram contratados há menos de 3 anos
10% foram vítimas de algum comentário hostil no ambiente de trabalho
Não há uma organização sindical que represente os trabalhadores
México
Entrevistados com idade entre 25 a 40 anos
50% com educação secundária (9 anos de estudo)
12% mulheres
Recebem, em média, US$ 12 por dia trabalhado (a menor remuneração entre os países pesquisados, abaixo do piso da categoria no país)
80% casados e com dois dependentes econômicos (esposa e filho)
85% sem casa própria
Entre os contratados, a média de tempo na empresa é de 4 anos
Jornada de 48 horas semanais
10% dos entrevistados eram terceirizados (concentrados em serviços de limpeza, jardinagem, manutenção)
Entrevistados com idade entre 25 a 40 anos
50% com educação secundária (9 anos de estudo)
12% mulheres
Recebem, em média, US$ 12 por dia trabalhado (a menor remuneração entre os países pesquisados, abaixo do piso da categoria no país)
80% casados e com dois dependentes econômicos (esposa e filho)
85% sem casa própria
Entre os contratados, a média de tempo na empresa é de 4 anos
Jornada de 48 horas semanais
10% dos entrevistados eram terceirizados (concentrados em serviços de limpeza, jardinagem, manutenção)
Peru
Salários variam de US$ 280 a US$ 423 mensais
Não há um sindicato ligado à empresa
Jornada de 8 horas diárias, cumpridas apenas entre os contratados
As empresas que terceirizam trabalhadores não possuem certificações de segurança
Não há uma organização sindical que represente os trabalhadores
Salários variam de US$ 280 a US$ 423 mensais
Não há um sindicato ligado à empresa
Jornada de 8 horas diárias, cumpridas apenas entre os contratados
As empresas que terceirizam trabalhadores não possuem certificações de segurança
Não há uma organização sindical que represente os trabalhadores
Uruguai
70% são mulheres (a produção é de peças pequenas, majoritariamente componentes elétricos)
45% dos trabalhadores são sindicalizados
Jornada média de 75 horas mensais
Mais de 60% das empresas contratadas pela Siemens possuem menos de 5 empregados
Não há uma convenção coletiva que defina os salários
70% são mulheres (a produção é de peças pequenas, majoritariamente componentes elétricos)
45% dos trabalhadores são sindicalizados
Jornada média de 75 horas mensais
Mais de 60% das empresas contratadas pela Siemens possuem menos de 5 empregados
Não há uma convenção coletiva que defina os salários
Sobre a pesquisa
As pesquisas que indicam as condições de trabalho na Siemens na América Latina foram realizadas entre 2012 e 2013 na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai. As pesquisas foram desenvolvidas pela Rede Latino-americana de Pesquisa em Empresas Multinacionais (RedLat). Fazem parte da rede as organizações: Centro de Estudios de Formación Sindical – Laboratório Social Sindical (CEFS-LASOS) da Argentina; Instituto Observatório Social (IOS) do Brasil; Observatorio Laboral – Centro de Estudios Nacionales de Desarollo Alternativo (CENDA) do Chile; Escuela Nacional Sindical (ENS) da Colômbia; Programa Laboral de Desarollo (PLADES) do Peru; Centro de Investigación Laboral y Asesoria Sindical (CILAS) do México e Instituto Cuesta Duarte (ICD) do Uruguai.
Os estudos fazem parte de um projeto de fomento dos direitos dos trabalhadores na América Latina, desenvolvido com a DGB Bildunsgswerk (DGBBW), entidade de cooperação que faz parte da Deutscher Gewerkschaftsbund (DGB), central sindical alemã. Os temas propostos para análise foram: empregos de qualidade e quantidade, remuneração adequada, emprego seguro, formação profissional, respeito aos direitos dos trabalhadores, negociação coletiva, participação dos trabalhadores nas decisões da empresa, diálogo social, proteção social, emprego em condições de liberdade.
Acesse à pesquisa completa:
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