A violência contra a mulher novamente foi tema de debates na Assembleia Legislativa dentro dos eventos programados para o mês de março. Na noite desta quinta-feira (14), a jornalista Ângela Bastos apresentou o trabalho multimídia “Sozinhas – Histórias de mulheres que sofrem violência no campo”, executado em parceria com o repórter fotográfico Felipe Carneiro.
Na reportagem, Ângela Bastos focou na violência contra a mulher. “E não só contra a mulher, mas a mulher que vive no campo, isolada, distante dos serviços de proteção, que não tem nem vizinho por perto para correr, que muitas vezes carrega as marcas da violência em seu corpo, mas ninguém vê, porque ela não recebe visitas ou porque precisa se cobrir durante o dia para o trabalho.”
Para Ângela Bastos, não há uma “resposta pronta” para acabar com essa violência, mas a solução passa pela educação, pelo debate do assunto abertamente em escolas e universidades. “Se a gente for ver, é uma repetição de histórias: essas mulheres que sofreram violência, as mães delas sofreram; com as filhas, provavelmente, se não se conseguir tomar uma medida mais cultural até contra isso, vai ser uma repetição”, alertou.
A jornalista considera essencial discutir o machismo, a objetificação da mulher e suas consequências. “Por que o homem bate na mulher? Porque ele se sente dono da mulher. Ele acha que a mulher é um objeto dele, como é um trator, como é uma enxada, como é uma máquina de pulverizar agrotóxico. Então, a gente tem que trabalhar esse pensamento. A mulher é uma pessoa que tem direitos, ela não é posse.”
Direitos das pessoas
A repórter especial do Diário Catarinense é conhecida e premiada nacionalmente por seu trabalho pautado na questão dos “direitos das pessoas, e não só das mulheres”, como ela faz questão de frisar. “Eu procuro me pautar por matérias que tenham essa conotação. Eu busco esses temas, como direitos dos adolescentes que são mutilados no trabalho infantil, dos índios que são corridos de sua aldeia ameaçados por quem é ‘supostamente’ dono daquela área, sobre crianças que sofrem violência física ou sexual.”
A complexidade dos temas dificulta a apuração. “Chegar nessas mulheres e fazer com que elas confiem em mim – que talvez elas nunca tenham ouvido falar, nunca tenham visto – ao ponto de elas me contarem a história delas, é uma dificuldade”. No caso do “Sozinhas”, para entrevistar as mulheres retratadas no trabalho ela precisou contar com fontes conquistadas ao longo de vários anos como repórter. “Eu contei muito, nesta matéria especificamente, com o movimento de mulheres camponesas. Porque destas seis, sete mulheres que eu entrevistei, pelo menos três ou militavam ou tinham feito parte em algum momento ou conhecem o movimento”, revelou.
Ângela contou que para executar um trabalho como esse, o caminho do repórter é construir relações. “Relações de respeito, de saber que a pessoa pode contar a história dela e que não vai ser deturpada, que ela não vai ficar exposta. De encorajá-la a falar sobre aquilo porque vai ajudar. Se essas mulheres não tivessem me contado a história delas, hoje outras mulheres que estiveram aqui não estariam conhecendo a história delas.”
A jornalista disse sentir prazer pela profissão, mas que isso, obviamente, não significa gostar das situações que vê no dia a dia. “Eu escolhi ser jornalista e escolhi me pautar por esses temas. Para ficar claro, eu não tenho prazer de ver uma mulher com o corpo todo marcado ou mordido ou chorando por ter sofrido violência. Mas, quando eu vejo o resultado do meu trabalho, eu sei que estou dando minha contribuição para uma sociedade um pouco menos dolorida, se é que se pode dizer assim.”
Fonte: Assessoria de Imprensa da Alesc
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