Foi exibida na última quinta-feira (7) na Rede TVT, mais uma edição do programa “Entre Vistas”. Com apresentação de Juca Kfouri. A entrevistada da noite foi Larissa Bombardi. Ela é doutora em geografia pela USP e especialista em agrotóxicos. João Paulo Rodrigues, da Coordenação do MST, e Yamila Goldfarb, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, fizeram comentários.
Bombardi é autora do Atlas “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”, que detalha a extensão do uso e os problemas causados pelos produtos que a bancada ruralista chama de “defensivos agrícolas” dentro do país. Ela iniciou sua intervenção citando exemplos de alimentos importantes na dieta da população que estão altamente contaminados pelos agrotóxicos.
“O Brasil é extremamente permissivo no que diz respeito aos resíduos de agrotóxicos que nós permitimos nos alimentos e na água potável. A gente permite um resíduo do inseticida malationa no feijão quatrocentas vezes maior do que o permitido na União Europeia. Na soja, a gente permite o resíduo de glifosato duzentas vezes maior do que na União Europeia. Isso significa que se uma criança de vinte quilos ingerir cem gramas de soja por dia, ela terá extrapolado em 20% o que seu corpo pode tolerar de glifosato. Na água potável nós toleramos um resíduo de glifosato cinco mil vezes maior do que na União Europeia.
Segundo ela, do ponto de vista da saúde, o brasileiro tem problemas crônicos associados a essa exposição. “Não é só o câncer, temos problemas hormonais severos. Uma médica fez um mestrado na Chapada do Apodi e identificou puberdade precoce associada a agrotóxicos: bebês com dois anos com seios e pêlos pubianos. Eu mapeei os casos de malformação fetal no estado de São Paulo, e é muito assustador, porque a gente consegue enxergar no mapa, o uso intensivo de agrotóxicos”, diz.
Confira abaixo alguns trechos selecionados da entrevista e do debate:
Juca Kforui: Larissa, você apresenta a diferença do que é permitido aqui para o que não é permitido na União Europeia, mas boa parte desses tóxicos todos não é produzida por multinacionais com sede na União Europeia?
Larissa Bombardi: Esse é o maior exemplo da contradição. A gente tem 6 grandes empresas que controlam 70% do comércio de agrotóxicos do mundo, e uma parte delas tem sede na União Europeia. A realidade até 2018 é que as empresas estadounidenses e europeias controlam 70% do mercado de agrotóxicos e muitas dessas substâncias são proibidas nos seus territórios de origem.
Eu quando vejo anúncios do agronegócio pujante, que faz do Brasil líder em uma série de itens, e vejo os aviões passando e pulverizando os campos, fico orgulhoso da nossa tecnologia. Aí fico sabendo, por quem entende do assunto, que isso é proibido na União Europeia há mais de uma década. Para onde vamos, como mudar esse estado de coisas?
João Paulo: Em nossa leitura só é possível segurar isso se o consumidor participar desse debate. Ele compreender do ponto de vista da saúde pública e da sua saúde, o que está por trás dessa maquinaria envenenada chamada agronegócio. Você imagina a riqueza que é a população brasileira. Na Feira Nacional da Reforma Agrária do MST nós trouxemos 1600 produtos das mais diferentes áreas. Por que o Agronegócio quer padronizar a produção? Porque eles querem enfiar goela abaixo que os brasileiros tem que comer quatro produtos: milho, soja, arroz e trigo — e com veneno.
O fato da produção orgânica ser menor leva necessariamente ao produto orgânico ser mais caro?
Larissa Lombardi: Tem essa relação direta, por conta da oferta e da procura. Enquanto o orgânico é raro, é mais caro. E não porque é mais caro de ser produzido.
João Paulo: O custo de produção não é muito mais alto, a diferença é pequena. O que é alta é a especulação do agricultor que produz até chegar [no mercado]. É muito difícil você chegar em um supermercado da periferia e encontrar uma gôndola de orgânicos, você vai achar nas grandes redes, e lá eles organizam o preço.
Fonte: Brasil de Fato
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