Oficinas, debates e momentos culturais reboraram a necessidade de discutir a Consciência humana, a vida dos povos e sua diversidade, durante a realização do Segundo Seminário da Consciência Negra, em São Miguel do Oeste-SC
Apresentação de dança afro - Grupo Cultural Ka-Naombo
A Associação dos Afrodescendentes de São Miguel do Oeste (Afrodesmo), realizou nos dias 20 e 21 de novembro, o Segundo Seminário da Consciência Negra, no salão paroquial da Igreja Matriz São Miguel Arcanjo, em São Miguel do Oeste. A atividade que teve início as 18h30 de sexta-feira, seguiu até o sábado, dia 21, com a realização de mesa de debates e oficinas culturais.
Durante a abertura, participaram representantes de movimentos populares e pastorais sociais, além de professores\as, membros da administração do município e Fundação Cultural (Funcultura). A noite teve início com a apresentação do vídeo: ‘Ubuntu’ cujo significado remete a uma filosofia africana, referindo-se a capacidade de compreensão sobre as diferentes realidades, culturas, modo de vida. Mesmo antes do término do vídeo, grande parte dos professores que incialmente haviam lotado o salão paroquial, foram embora.
Debates tiveram como referência a vida dos povos sofridos
Mesmo assim, segundo a Presidente da Afrodesmo, Isete Carmen Lourenço, o movimento sente-se fortalecido com a atividade realizada. “Nos orgulhamos muito, pois apesar das adversidades, vencemos o preconceito mais uma vez e pudemos unir forças com pessoas que acreditam que um mundo humanizado é possível”, destacou.
Ela destaca que a atividade é simbólica e faz resistência a diversos tipos de preconceitos que têm sido enfrentados pelo movimento em São Miguel do Oeste. Um deles diz respeito a um Projeto de Lei que foi apresentado pela Fundação Cultural do município de São Miguel do Oeste, (Funcultura), e propõe reduzir para um dia as atividades correspondentes à semana da Consciência Negra. A proposta segundo ela, gerou revolta a Associação dos Afrodescendentes de São Miguel do Oeste (Afrodesmo), organização que representa o Movimento Negro no município.
Oficinas realizadas durante o sábado, uma delas, sobre Dança Afro
Isete destaca que o município de São Miguel do Oeste ocupa o 8º lugar no País, estando entre as melhores cidades para se viver, até 100 mil habitantes. Esse dado divulgado em 2013, é constatado por meio do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e é utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para analisar a qualidade de vida da população. São Miguel do Oeste estaria na 39ª posição em relação a todas as cidades Brasileiras. “Lugar melhor para se viver? Mas para quem viver? Os Afrodescendentes? Os indígenas? Os caboclos?”, questionou.
Além de representar o Movimento Negro, Isete é educadora. Ela acrescenta que, muito embora a lei de diretrizes e bases da educação nacional, que visa incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, exista, não é cumprida, o que torna ainda mais omissa a história dos povos na cidade e região. “Parece que a gente não faz parte da história de Santa Catarina”, declara.
Isete reforçou que no próximo ano, a atividade sobre a Consciência Negra deve ser expandida e a realização de uma Semana de Consciência Negra será reivindicada. “Para quem insiste na ideia de que não devemos fazer uma semana de Consciência Humana, deixamos a dica: primeiro busque humanizar seu parecer sobre violência, racismo e equidade. Depois vamos avaliar por que batem tanto nesta tecla se conseguirem debater olhando em nosso olho”.
Seminário foi contemplado com apresentações culturais de vários grupos
Durante o final de semana, diversas oficinas foram realizadas, entre elas, Percussão, Dança Afro, Literatura Infantil, Sistema prisional e os reflexos decorrentes do cárcere e Os negros no Contestado. A Professora Doutoranda Wanirley Pedroso Guelfi, de Curitiba-PR, trabalhou uma roda de debate com o tema: Diversidade, violência e utopia: Uma Conversa ao Redor da Fogueira. Ela ressaltou a necessidade de se colocar simbolicamente na ‘fogueira’ tudo aquilo que fere a diversidade. Segundo ela, é impossível avançar no processo de construção de uma sociedade diferente quando preconceitos e estereótipos existirem.
O Educador Popular de Fraiburgo, Jilson Carlos Souza, também realizou uma conversa falando sobre os negros\as no genocídio do Contestado. “Estar junto a Afrodesmo e falar sobre o papel das negras e negros no Conflito do Contestado foi uma experiência muito enriquecedora. Tive a oportunidade de partilhar informações sobre o papel das lideranças caboclas e negras no Contestado. Também aprendi muito sobre a importância de conhecermos nossa negritude e origens, através dos conhecimentos partilhado por outros educadores\as e das apresentações culturais. Estou mais fortalecido para seguir lutando contra todos os tipos de preconceitos (racial, xenofóbico, sexista, gênero…). Seminário como esse devem ser expandidos para outros municípios catarinenses, pois somente dessa maneira ampliaremos a capacidade humana de compreender, aceitar e tratar bem o outro e construiremos o sonhado Ubuntu”, finalizou.
Por Claudia Weinman, jornalista popular da
PJR-PJMP.
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