quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Semana Social Brasileira estadual propõe aprimoramento da democracia e reparações de crimes contra o povo



A exigência de que Santa Catarina, Paraná e a União reconheçam os crimes cometidos na Guerra do Contestado (1912-1916), a luta pelo “bem-viver” e pela ampliação da participação popular nos poderes estatais, são três compromissos expressados na Carta da 5a Semana Social Brasileira de Santa Catarina (SSB/SC). O documento foi divulgado no final do evento, em 08 de setembro, na localidade de Taquaruçu, no interior de Fraiburgo.
Também foram definidas 45 bandeiras de lutas, propostas por 14 grupos temáticos, que discutiram assuntos específicos, como comunicação, gênero, religião e questão indígena. Algumas das propostas são: unificar as agendas a fim de fortalecer as lutas dos movimentos sociais, incentivo à produção de produtos orgânicos e agroecológicos, fortalecer a luta contra a redução da maioridade penal, defender ocupações urbanas organizadas na luta por moradia urbana, criar uma rede de comunicação popular.
Reflexões
Os três assessores destacaram pontos que consideraram estratégicos em relação às bandeiras de luta e dos compromissos assumidos.
O juiz aposentado do Tribunal de Justiça do Maranhão, Luís Jorge Silva Moreno observou a necessidade dos movimentos e pastorais atuarem “com perícia” nas questões de Estado.
— Não dá para a gente ficar lutando por uma coisa que a gente desconhece — alertou.
Moreno sugeriu a criação de metodologia que dê sequência para a 5a SSB/SC e que resulte em julgamento no tribunal para responsabilizar o Estado por crimes cometidos contra o povo.
O professor de história, da Universidade Federal de Santa Catarina, Paulo Pinheiro Machado, analisou que as discussões da Semana Social são a atualização das demandas da “luta e da esperança do povo do Contestado”. Eles lutavam pela instalação da “monarquia celeste: um regime que defendia a liberdade, a natureza, a solidariedade e a justiça. São princípios, pelos quais, nós continuamos, hoje, lutando com outros nomes e com outras palavras”, acrescentou.
Como um caminho para bem-viver, padre alemão Paulo Suess, do Conselho Indigenista Missionário, apontou como um horizonte de luta o que conquistaram os indígenas da província de Chiapas, no México. “Lá tem um letreiro, quem sabe um dia vai estar escrito aqui também: Aqui o povo manda, e o governo obedece”, citou.
Celebração
A celebração de enceramento relembrou a primeira romaria da terra catarinense e o massacre da primeira “Cidade Santa” do Contestado. Os participantes caminharam até o local em que aconteceram os dois eventos, levando uma cruz de cedro.
A romaria, reuniu a inesperada multidão 25 mil pessoas, em 1986, e exigiu uma mobilização de água e comida jamais vista na comunidade.
— Daquele dia em diante, nós não somos mais os mesmos. Entendemos que para garantir nossos direitos precisamos nos unir, se organizar e lutar — relatou Edison de Lorenzi, líder comunitário e dono da propriedade em que foi plantada a primeira Cruz de Cedro, cujo broto cresceu por vários anos.
A jovem Roberta Francisca, “Chica Pelega”, líder guerreira dos caboclos e cuidadora dos doentes, foi representada para lembrar a luta pela vida, ainda não terminada. Ela morreu queimada com as crianças, ao tentar refugiar-se dentro da Igreja, durante o bombardeiro feito pelas tropas do governo federal, em 1914. O ataque dizimou a população estimada em três mil pessoas.
A celebração continuou ao lado da capela da comunidade, em terreno doado pelos caboclos sobreviventes da guerra. Na homilia, o bispo de Caçador, dom Severino Clasen, pediu que as organizações saiam de “seus pacotinhos” e se unam pela justiça social.
— Voltem com mais coragem, mais comprometidos, mais sensibilizados, de que vale à pena, revestidos dos sentimentos de Jesus, ser discípulos Dele para transformar. Essa transformação já podemos ver nesse mundo, em nossos lugares, aqui e ali, os sinais do Reino de Deus acontecendo. É possível, se nós erguermos a cabeça e dermos continuidade a toda reflexão construída nestes dias — concluiu dom Clasen.
Uma nova cruz de cedro, foi plantada ao lado do museu mantido pela comunidade. A cruz permanecerá como uma memória “da resistência na luta para uma nova sociedade”, como destacou a equipe da celebração.
Novamente, como em 1986, a partilha de alimentos resultou em excedente, que foi doado a um acampamento indígena, em Fraiburgo e outro do MST, em Lebon Régis.
A etapa catarinense da 5ª Semana Social Brasileira, discutiu o tema “Estado para que e para quem?” entre os dias 06 e 08 de setembro, em Taquaruçu, no interior de Fraiburgo, com cerca de 500 representantes movimentos sociais, pastorais, organismos da Igreja, além de alunos e professores de universidades federais.
Fonte: Jilson Carlos Souza

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