“Talvez um dia, não existam aramados, e nem cancelas, nos limites da fronteira. Talvez um dia milhões de vozes se erguerão, numa só voz, desde o mar as cordilheiras. A mão do índio, explorado, aniquilado, do Camponês, mãos calejadas, e sem-terra, do peão rude que humilde anda changueando, e dos jovens, que sem saber morrem nas guerras”.
Ao recordar esta canção que tão bem retrata o desejo de justiça por tantos que tombaram lutando por seu pedaço de chão, o coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular (APAFEC), com toda autonomia em defesa dos povos originários, levantou um cartaz durante a realização do I Congresso Nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), que aconteceu em São Paulo de 12 a 16 de outubro, com o seguinte dizer: “Dilma! Cadê a demarcação das terras indígenas”? Referindo-se a passagem da presidente durante o congresso.
Para o coletivo, exigir a demarcação das terras indígenas se tornou uma luta constante pela vida dos povos, uma vez que, estes tem sofrido constantes ataques por parte das milícias ruralistas. Embora os confrontos sejam históricos, o coletivo entende que ‘quase’ nenhuma proteção tem sido dada aos indígenas. A morte do índio Semião Vilhalva, indígena de 24 anos, assassinato no Mato Grosso do Sul, em uma das áreas retomadas na Terra Indígena Ñanderu Marangatu onde famílias Guarani e Kaiowá precisaram deixar suas moradias após o local ser invadido por pistoleiros e fazendeiros, é muito presente.
O coletivo também entende que o cartaz exigindo a demarcação das terras é um símbolo importante, considerando que a atuação dos deputados na comissão especial da PEC 215 é uma afronta ao passado, ao presente, ao futuro e a vida dos povos nativos, isso porque, a PEC leva ao congresso nacional a decisão sobre a demarcação das terras indígenas, tira do executivo o poder, dá a possibilidade de revisão de todas as terras indígenas demarcadas historicamente e garante ao congresso as decisões sobre a exploração das terras indígenas bem como seu arrendamento. Portanto, a zombaria da PEC abre espaço para que a bancada da bala, para que fazendeiros, pistoleiros, façam o extermínio de quem sempre cuidou da terra como mãe. A PJMP, PJR, Apafec, entendeu que na passagem da presidente Dilma, além de ouvir, também seria necessário cobrar o que é de direito do povo e acima de tudo, defender! Defender! defender os irmãos\as violentados, massacrados pelas forças que se mantém sobre a mídia brasileira “secretas”.
Após essa exigência apontada pelo coletivo na presença de grande parte da mídia burguesa presente no espaço, percebeu-se que esse pedido não foi em vão. O Conselho Indigenista Missionário divulgou nesta semana um novo ataque. Na madrugada de segunda-feira, dia 19 de outubro, “A cacica da comunidade Guarani da Terra Indígena (TI) Morro dos Cavalos, município de Palhoça, em Santa Catarina, sofreu o sexto atentado deste ano. Uma pessoa disparou dez vezes contra a escola e as casas que ficam no seu entorno. Com a arma em uma mão e uma lanterna na outra, o desconhecido cruzou, caminhando, a passarela sobre a BR 101 que corta a terra indígena. Se não bastassem os tiros, gritou palavrões contra os Guarani e prometeu matar a cacica Kerexu Yxapyry (Eunice Antunes)”.
Portanto, mesmo que essa notícia não tenha sido divulgada a nível de importância, o coletivo seguirá denunciando todas as atrocidades que estão acontecendo com os povos originários, independente de espaço, de autoridade! Entendendo que é tarefa militante defender os povos, fazer luta concreta e principalmente denunciar o inimigo que é o capitalismo representado nas forças evangélicas destacadas no congresso, nos fazendeiros, pistoleiros armados e escondidos atrás de partidos políticos, é que a PJMP, PJR e Apafec se consolida nesta luta coletiva para defender a vida, a natureza, a terra mãe. E assim como fez Sepé Tiarajú, este mesmo coletivo segue reafirmando: “ALTO LÁ, ESSA TERRA TEM DONO”!
Texto: Claudia Weinman
Foto I: Claudia Weinman
_
Nenhum comentário:
Postar um comentário