“Não seja um Padre burguês, em suas veias abertas, corre o sangue camponês”

Foto II: Claudia Weinman

Foto I: Ir. Dilva

Aos poucos, o Ginásio da Comunidade Santa Rita de Cássia, localizado no município de São Miguel do Oeste\SC, foi sendo ocupado na noite de domingo, dia 06 de dezembro, por diversas pessoas que participaram da celebração de ação de graças pelos 25 anos de ministério sacerdotal dos Padres Luiz Roberto Sandini, da Paróquia São Miguel Arcanjo em Galvão e Reneu Zortea, da Paróquia São Miguel Arcanjo, de São Miguel do Oeste\SC.

Uma celebração, que trouxe um contexto muito diferente do que tradicionalmente costuma-se acompanhar. Mostrou-se mais parecida com um momento de celebrar as conquistas e reascender as esperanças e lutas por uma igreja libertadora, que assume os conflitos e se coloca do lado da classe empobrecida, explorada e lascada da sociedade.

A entrada de pessoas com bandeiras de movimentos populares, pastorais sociais, e símbolos que mostravam os enfrentamentos que a igreja precisa fazer, chamou bastante a atenção. Cartazes com os dizeres: “O Sul não é o meu país, o Brasil é o meu país”, “Basta de Violência Contra a Juventude”, “Capitalismo e Machismo Matam”, “Me Deixem Viver! Não à PEC 215”, além de camponeses e camponesas, operários e operárias que entraram mostrando suas ferramentas de trabalho, fez eclodir faces surpresas em meio à mais de 900 pessoas que acompanhava a celebração. Ao mesmo tempo, esta mística trouxe presente a contradição ao projeto de Igreja Libertadora, que são os agrotóxicos e outras formas que o Capitalismo utiliza para ferir e matar a vida do povo brasileiro.

“Ser Padre pra quê”?

Esta foi a grande provocação feita pelo Padre Reneu Zortea durante a celebração. Ele que vivenciou grande parte dos acontecimentos de sua vida política e militante no interior do município de São Miguel do Oeste, compôs uma canção que retrata a necessidade de expandir o projeto de Jesus Camponês e Operário de Nazaré para além da configuração histórica da igreja. A canção apresentada no domingo, trouxe em um dos versos um dizer que a mãe de Zortea exclamou certa vez. “Esteja sempre em alerta. Não seja um Padre burguês, em suas veias abertas, corre o sangue camponês”.

Estas palavras resumem parte da fala de Zortea sobre o compromisso com a defesa da vida dos povos. “O que tem me marcado durante todos esses anos de sacerdócio, é o conflito do evangelho nessa caminhada, o mesmo conflito de Jesus pela causa da vida”, disse ele. E ainda: “Estamos pensando no reino de Deus para muito além da igreja. Caminhando junto aos movimentos populares e pastorais sociais, aprendo mais sobre a construção do reino de Deus e isso tem me dado esperança. Quando vemos alguém passando fome, nas favelas, os camponeses\as sofrendo, podemos ver que ainda falta construir esse reino de todos\as”, disse ele.

Zortea também destacou uma fala do Papa Francisco e disse que fundamentalmente, a construção do reino de Deus consiste em ações concretas que defendam a vida dentro de um projeto maior, de transformação. “Jesus falou: ‘Eu vim para que todos\as tenham vida’. Esse projeto de Jesus é nosso também, por isso, precisamos reforçar hoje: ‘Nenhuma família sem casa, Nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos’, nenhuma criança sem infância, nenhum jovem sem oportunidades, nenhuma nação sem soberania, nenhum povo sem uma vida feliz”.

O Padre Luiz Roberto Sandini, da Paróquia São Miguel Arcanjo em Galvão, falou também sobre a importância de fazer enfrentamentos. “Os anos vão passando e surgem os desafios atuais. Precisamos saber viver a vida e o coração do povo, enfrentando todos os dias os desafios”, finalizou.

Que os símbolos trazidos para dentro da igreja e que refletem a realidade dos povos sofridos de toda América Latina, perpassem as estruturas engessadas e estejam, de fato, em compromisso com a defesa da vida dos povos do mundo.

Texto: Claudia Weinman, PJMP\PJR-SC. 

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