Temas como biogás e energia solar envolvem alunos tanto do Ensino Médio Integrado como da graduação
Professor Haroldo com as estudantes do Ensino Médio Integrado: iniciação científica desde cedo (Foto: Divulgação/IFC Luzerna) |
LUZERNA/SC – A questão da eficiência energética tem permeado debates em todo o mundo com as mudanças climáticas misturando-se na pauta econômica e social das nações. Nas instituições de ensino e tecnologia, os conteúdos são inseridos de forma a provocar nas novas gerações ideias e alternativas. No Instituto Federal Catarinense (IFC) Campus Luzerna, projetos que instigam os estudantes a refletirem sobre outras fontes de energia estão presentes tanto na rotina de estudantes dos cursos técnicos quanto daqueles que já estão no bacharelado.
Placas fotovoltaicas foram instaladas pelos alunos no telhado da instituição (Foto: Felipe Jung) |
A montagem de um biodigestor de baixo custo para produção de biogás virou projeto de pesquisa com duas alunas que fazem o Ensino Médio Integrado (EMI) em Automação Industrial e em Segurança do Trabalho, sob orientação do professor Haroldo Gregório de Oliveira. “As estudantes acharam o tema um pouco estranho, pois quem está no Ensino Médio ainda não tem grandes afinidades com a área da pesquisa. Com o tempo elas acabaram se acostumando com a ideia de que estão em uma instituição que pode fazer este trabalho”, diz o professor.
Assim nasceu o biodigestor anaeróbico, que utiliza um processo fermentativo com microrganismos para geração de gases combustíveis. A produção acontece com os microrganismos presentes em dejetos de animais que fermentam a matéria orgânica. “Essa matéria é constituída basicamente por carbonos, que são degradados e geram diversos tipos de ácidos de cadeias menores dentro do contexto químico. Quando chega a um determinado tamanho de cadeia, gera metano, que é o gás que utilizamos como combustível ou hidrogênio”, explica Haroldo.
O projeto não está finalizado. Algumas alterações tiveram que ser feitas para que fosse possível avaliar a quantidade de gás produzido. “Tentamos fazer algo bem simplificado, com garrafas PET, e deixamos gerando gás. A princípio nós iríamos queimar este gás, mas a produção foi bem pequena”, conta o professor.
Primeiro utilizou-se casca de banana. Depois, o grupo mudou para esterco bovino. Novamente, a produção ainda não era a ideal. “Aí alteramos para o esterco suíno, que tem uma capacidade maior de produção de gás. Instalamos, com o professor Ricardo Antonello, um dispositivo eletrônico para fazer a avaliação da quantidade de gás gerado”, fala Haroldo.
Plantada a semente da pesquisa, os alunos começam a observar os fenômenos químicos com outros olhos. Flávia Rosa de Andrade, aluna do EMI em Segurança do Trabalho, conta como tudo começou. “Conversamos com o professor de química para ver se ele tinha interesse em desenvolver algum projeto de pesquisa. A proposta de trabalhar com o biogás partiu dele”, diz. “Para mim foi algo totalmente novo, pois nunca havia ouvido falar em biodigestores. É muito interessante você pegar algo que aparentemente não servirá pra mais nada e, com isto, transformar em energia.”
Polyana Brustolin, que cursa Automação Industrial, é parceria de Flávia no trabalho. “Com tantas coisas acontecendo em relação à destruição do meio ambiente, precisamos de ideias novas. A energia renovável é uma boa alternativa”, fala a estudante. “No decorrer do trabalho percebemos que, em grandes cidades, o biogás não é tão viável pela falta da matéria-prima que utilizamos no processo. Enquanto isso, aqui no interior, é uma fonte muito boa, de acordo com vários outros projetos que analisamos e que estão sendo implantados e utilizados na região.”
Segundo o professor Haroldo, o Instituto Federal Catarinense se destaca pelo direcionamento proporcionado aos estudantes do Ensino Médio Integrado à parte científica, de pesquisa ou extensão. “Isto não acontece em outras instituições como em uma escola comum de ensino básico, e é preciso ressaltar o quanto é enriquecedor para o currículo de um futuro pesquisador”, diz.
E quanto mais ligado à realidade do aluno, mais eficaz acontece o processo de ensino-aprendizagem. “Temas a respeito de energia são bastante necessários porque a nossa matriz brasileira utiliza muito as usinas hidrelétricas – que, devido ao contexto social e econômico, acabam por não conseguir suprir toda a necessidade do país. Por isso é preciso ter caminhos alternativos de energia”, complementa o professor do IFC.
ENERGIA SOLAR
Outra iniciativa da instituição foi a aquisição de seis placas fotovoltaicas para pesquisas com energia solar. Dois trabalhos envolvendo conversores de energia estão sendo feitos. Neles atuam os professores Jessé de Pelegrin, Marcos Fiorin e Tiago Dequigiovani, além de alunos do curso superior em Engenharia de Controle e Automação. “As ideias surgiram exatamente devido ao panorama atual sobre eficiência energética no país e como, de uma forma mundial, as pesquisas estão se voltando para sistemas de energias renováveis”, fala Jessé.
Até o momento, quatro placas foram instaladas no telhado de um dos blocos do campus. As equipes estão verificando a incidência dos raios solares, bem como a posição mais adequada para a produção de energia.
As placas transformam a energia solar em energia elétrica, sob forma de tensão CC (corrente contínua), com valor próximo de 30 V. “Foi feita uma ligação em paralelo, com o cabeamento direto no laboratório, onde os alunos desenvolvem as pesquisas com os conversores”, afirma o professor Jessé. Um projeto objetiva o desenvolvimento de um conversor CC-CC, que eleva a tensão das placas fotovoltaicas para cerca de 400 V. Outro projeto estuda a conversão da energia em CC para CA (corrente alternada), que é a forma mais utilizada em ambientes industriais e domésticos.
Os acadêmicos Renan Junior Balan e Felipe Jung trabalham cada um em um conversor, e são beneficiados com bolsas de pesquisa ofertadas pelo próprio IFC. Para Renan, a iniciação científica permite que os alunos possam se aprofundar em um assunto específico de forma teórica e prática. “O projeto enriqueceu meu conhecimento nesta área, que tem grande potencial de crescimento e importância social”, comenta o futuro engenheiro. “Penso que os dois trabalhos desenvolvidos são apenas o início de uma linha de pesquisa que pode ser desenvolvida nos próximos anos pelo IFC Luzerna”, complementa. De acordo com o coordenador de Pesquisa do campus, professor Tiago Dequigiovani, nessa linha de pesquisa fotovoltaica também foi aprovado um projeto de parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC) e o IFC, que iniciou em novembro e tem duração de um ano.
Os dois cursos superiores do IFC Luzerna, Engenharia Mecânica e Engenharia de Controle e Automação, possuem em suas grades curriculares a disciplina de Conservação de Recursos Naturais. As pesquisas devem se estender para os próximos anos. Em 2016, os alunos do Ensino Médio Integrado também integrarão os projetos.
fonte: CECOM
Instituto Federal Catarinense - Campus Luzerna
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