O tema foi debatido durante audiência Pública, na quinta-feira, dia 26. Discrepâncias entre poder público municipal, representantes do estado e comunidade, chamou atenção para descasos que ocorrem em São Miguel do Oeste, interior do estado de Santa Catarina
A audiência Pública realizada na última quinta, dia 26, na Câmara de Vereadores, em São Miguel do Oeste-SC, despertou discrepâncias entre o poder público municipal, representantes do estado e comunidade. Entre os assuntos em discussão, foram destacados o andamento da implantação de um centro oncológico no município e a saída do grupo São Camilo, que há cinco anos administra o Hospital Regional Terezinha Gaio Basso, localizado em São Miguel do Oeste. A pauta proposta pelos vereadores foi ampliada ainda, por apontamentos feitos pela comunidade, onde lideranças desmistificaram segundo elas, o ‘endeusamento’ feito até então, pelos líderes do governo sobre a saúde pública, a qual, perpassa a prestação de serviços exclusivas ao setor.
Antecedendo as manifestações da comunidade, o vereador Juarez da Silva, salientou que a ‘saúde’ do município não anda bem. Silva disse isso embasado em várias denúncias que chegaram até a Câmara de vereadores e não foram esclarecidas para a população. Ele enfatizou que a secretaria de Saúde é o setor que mais tem recebido recursos do Governo Federal e que o motivo denominado ‘falta de recursos’, não poderia ser usado para justificar alguns descasos que vem acontecendo, seja na prestação do primeiro atendimento ou nas especialidades.
O Vereador falou ainda, sobre o término do contrato com o grupo São Camilo, que atualmente promove a gestão do Hospital Regional Terezinha Gaio Basso, em São Miguel do Oeste. A empresa deixará a prestação de serviços a partir do dia 15 de dezembro, sendo que, a contratação de outra empresa ainda está em definição. Silva disse que a população não está sentindo-se segura e quer uma garantia desses atendimentos.
A gerente regional de Saúde, Paula Corrêa, respondeu parte dos questionamentos, salientando que três empresas demonstraram interesse em assumir a administração do Hospital Regional, e, encaminharam a documentação que está sendo analisada. Importante lembrar que são as mesmas empresas que não haviam cumprido os requisitos necessários para assumir a responsabilidade, isso em outro período. “Não vai haver ausência do atendimento, mas haverá transição de uma empresa para outra”, adiantou Paula, enfatizando ainda, que o quadro de funcionários será mantido em sua maioria, com a mudança na administração do hospital.
Paula ressaltou que a implantação dos serviços de Oncologia estão previstos para o primeiro semestre de 2016, no espaço ocupado atualmente pelo Samu e que passará por reformas, bem como a unidade do Hospital Regional, que será ampliada.
“Elogiaram tanto a saúde do município mas é politicagem, não é bem isso que a gente vê”
Logo após as exposições feitas por representantes do poder público municipal e líderes do governo do estado elogiando o setor da saúde, a comunidade começou a manifestar-se. Segundo Paulo Cesar Hoffmann, morador do bairro Progresso, a comunidade percebe ‘incertezas’ nas falas que foram proferidas durante a audiência. Ele disse que muitas famílias que possuem pessoas trabalhando no Hospital Regional, por exemplo, estão com receio de perderem seus empregos com a instalação de um novo grupo de administradores no hospital, e que a garantia da continuidade dos serviços já prestados pela atual equipe de trabalhadores\as, não foi assegurada.
Hoffmann criticou ainda, a falta de atenção nas obras do posto de saúde do bairro Progresso. “Elogiaram tanto a saúde do município mas é politicagem, não é bem isso que a gente vê. O que está acontecendo com os postos de saúde é politicagem. Nos bairros onde o PMDB fez mais votos os postos estão com obras bonitas, conservadas, e no bairro Progresso, deixaram abandonado até semana passada. Quando vão terminar aquela obra?”, interrogou.
Outro ponto levantado pelo morador do bairro Progresso, foi a falta de saneamento básico, especialmente nas comunidades periféricas do município. “Estão dizendo que o Saneamento Básico não é uma urgência. Poderiam viver um dia na comunidade onde minha mãe mora, tendo que comprar veneno para os ratos e convivendo com o mau cheiro das fossas. Se isso não é Saúde Pública, então o que significa? O esgoto desaguando no Rio Guamerim, isso não é um problema?”, questionou.
Ao colocar os pés na comunidade São Francisco de Assis, região periférica e abandonada pelas políticas públicas, para verificar o Saneamento Básico, assunto apontado por Hoffmann, que mencionou o exemplo de sua mãe, ela disse. “Moro há 30 anos na comunidade e sempre foi assim. Algumas melhorias foram feitas, mas o saneamento básico continua sendo um problema. A gente tem que guardar dinheiro todo mês para comprar veneno para ratos e insetos”, afirmou Marlice Salete Hoffmann.
O que está sendo feito
Sobre as obras no posto de Saúde do bairro Progresso, o secretário de Saúde, Airton José Macarini, disse que as obras foram retomadas na segunda-feira, dia 30, com 12 trabalhadores, e deve levar mais 90 dias para ser concluída. ‘Estranhamente’, as obras foram retomadas a partir da cobrança feita pelo morador na audiência pública.
Já para os problemas referentes ao saneamento básico no município, a secretária de Planejamento, Marli da Rosa, disse que existe um projeto em parceria com a Casan, e que deve contemplar toda a cidade, porém, ela salienta que este refere-se a longa data. Ao questioná-la sobre o desague de esgoto no rio Guamerim, que corta também a Comunidade São Francisco de Assis, ela disse que não tinha conhecimento sobre o assunto e solicitou encaminhar o caso ao secretário de Desenvolvimento Urbano, Cássio da Silva.
Em contato com o secretário, ele disse existir uma estação de tratamento na comunidade, mas que não teriam conhecimento da contaminação que estaria acontecendo na localidade. “Não temos o controle disso”, salientou, enfatizando ainda, que o caso devesse ser encaminhado para Vigilância Sanitária. Os representantes da vigilância por sua vez, disseram apenas que não possuem informações sobre poluição no rio Guamerim.
No ano de 2012, uma matéria foi divulgada no site da Câmara de Vereadores apontando uma denúncia dos moradores do bairro Morada do Sol, que relataram haver naquela época, o despejo de esgoto em um dos afluentes do Rio Guamerim. Eles também haviam enfatizado que a prefeitura estaria há quatro meses sem fazer a manutenção da estação de tratamento. O que os moradores esperam agora, diante dessas incertezas nas respostas, é uma resolução para esses problemas que não foram esclarecidos durante a audiência pública.
Texto e Fotos: Claudia Weinman
Foto I: Posto de Saúde do Bairro Progresso
Foto II: Moradora Marlice, mostrando o ‘veneno’ que ela compra para matar os ratos
Foto III: Rio Guamerim
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