Estudar, refletir, discutir, estudar novamente, buscar entender a sociedade e as necessidades concretas de mudança. Tudo isso têm sido o foco de estudo de uma gurizada que se reúne para fazer formação no fim de semana. Jovens que vivem a realidade da exploração operária e camponesa todos os dias, e que sonham, lutam por um mundo de dignidade para todos os povos.
Ao iniciarem o curso Realidade Brasileira, de pós- graduação e extensão em Educação no Campo com Ênfase no Estudo da Realidade Brasileira, na Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), em Chapecó\SC, jovens da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR), do Extremo-oeste Catarinense, têm dedicado tempo e prioridade aos estudos.
A Jovem Fabiula Karla Fergutz, 19 anos, acredita que somente estudando, é possível contribuir no processo coletivo de formação de quadros para a militância. “Acredito que o curso vai ser importante para minha vida militante e para a organização em que contribuo como jovem da Pastoral da Juventude do Meio Popular. Quero ajudar a mudar o que a gente percebe que está errado na sociedade. Isso me traz identificação com este grupo, me unindo a pessoas que querem ir além do que a sociedade nos apresenta”.
Paulo Fortes, que também é militante da PJMP, tem 21 anos, está cursando o terceiro ano do ensino médio e salienta que no espaço da escola tradicional existem limitações, e nem sempre é possível avançar nos debates. “Percebo que somente o conhecimento é que liberta o povo dessa vida de opressão e obediência. Por isso quis integrar o curso de Extensão em Educação no Campo com Ênfase em Realidade Brasileira. Da mesma forma que busco a minha libertação, dentro da perspectiva da condição social, econômica, política cultural, também quero poder contribuir com a libertação dos povos do Brasil e da América Latina. Quero poder viver sem preconceitos, sem ser criminalizado e desejo acima de tudo, que esse sonho seja concretizado coletivamente”.
Qualificar a militância
A Militante da Pastoral da Juventude Rural (PJR), Jociani Pinheiro Hammes, faz um apontamento ainda sobre a importância de qualificar a militância por meio do estudo. Ela cita o exemplo do Educador Paulo Freire, quando fala na leitura para além da palavras. “Ele dizia que primeiro teria aprendido a ler o mundo e depois as palavras, e mais adiante ainda, a leitura da palavra ‘mundo’. Quando ele fala da leitura de mundo, ele nos faz pensar no lugar onde estamos, na necessidade de nos darmos conta de que o meio em que vivemos precisa ser transformado”.
Pelo fato da escola tradicional possuir falhas na leitura da palavra ‘mundo’, Jociani defende a realização de momentos de estudos coletivos, para unificar as diferentes compreensões de mundo. “Juntando as compreensões é que vamos entender a compreensão de todos. Por isso nos reunimos como militância da Esquerda Socialista para entender o atual cenário de crise econômica no país, e descobrir possibilidades de unidade, alianças, compreendendo também o estado e quem são nossos inimigos.
‘Fascistas de esquerda’
Ao conhecer o inimigo, Jociani ainda destaca: “O Companheiro Pedro falava ontem sobre os ‘Fascistas de esquerda’. Precisamos identificá-los, mas principalmente, tomar cuidado para que a gente não se torne um ‘fascista de esquerda’, mantendo a coerência dentro de nossas organizações e coletivamente, neste processo maior de transformação da sociedade”, finaliza.
Realidade Brasileira
No Brasil, mais de 100 cursos com a denominação ‘Realidade Brasileira’ acontecem e reúnem militantes de movimentos, organizações populares e pastorais sociais. Prioritariamente está o ideal de formação de quadros para a militância da esquerda no país. É construído pelos movimentos populares, pastorais sociais e organizações populares em parceria com a UFFS
O Curso Realidade Brasileira é pensado com o ideal de fortalecer as alianças entre os movimentos\pastorais sociais, com base no estudo sobre a realidade brasileira, suas nuances e necessidades de transformação. Sua intencionalidade é política e militante de reelaboração da prática da revolução brasileira.
Texto e Fotos: Claudia Weinman
Jornalista, PJMP-PR.
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