Diálogo foi construído com diversas lideranças de movimentos, pastorais e organizações sociais da região, na noite de quarta-feira, dia 05, em São Miguel do Oeste
Representantes de diversos movimentos, pastorais e organizações sociais da região, estiveram reunidos na noite de quarta-feira, dia 05, no salão paroquial em São Miguel do Oeste\SC, para planejar e aprofundar a discussão sobre o lema do Grito dos Excluídos e Excluídas deste ano: “Que país é esse que mata gente, que a mídia mente e nos consome”.
Pela 21º vez no Brasil e pela 16º em São Miguel do Oeste, as organizações se reúnem para denunciar o que consideram ser um projeto de morte para a sociedade Brasileira, tendo como base as pautas que questionam o modelo do agronegócio, a criminalização de jovens, violência contra a mulher, e anunciando mais uma vez a luta pela Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), o Contestado e em defesa dos povos. Entre tantas outras pautas, ainda se faz em destaque a denúncia a imprensa golpista e a necessidade de criação de meios alternativos que mostrem de maneira clarividente, a história dos povos e as lutas das organizações sociais.
História
A representante da Pastoral da Juventude Rural (PJR), que vem acompanhando a organização do Grito dos Excluídos\as desde o seu início em São Miguel do Oeste, Jociani Alves Pinheiro, comenta que a realização da primeira marcha é lembrada com destaque. “A ‘sociedade civil organizada’ encerrou o desfile sem anunciar a nossa participação. Estávamos aguardando o momento de entrada no desfile do município quando nos ‘esqueceram’. Foi então, que o povo eclodiu na multidão e marchou pelas ruas mostrando as suas pautas, as suas bandeiras e contando as suas histórias”, recorda.
Tailor Scariott que representa a Pastoral Familiar, acrescenta ainda que a necessidade de organização do povo para contrapor o modelo econômico vigente sempre esteve presente nas pautas das organizações que se somaram nas ruas durante o Grito dos Excluídos\as ao longo destes anos. “A partir do ‘Grito’, o povo começou a se reunir para pensar qual era a sociedade que todos nós sonhávamos e seguimos sonhando. Partimos da ideia que somos excluídos\as dos nossos próprios direitos mas também, que não queremos nos incluir nesta lógica do capital”, enfatizou.
Necessidade de organização
O Jovem da Pastoral da Juventude Rural, Mateus Felipe de Deus e Silva, fala ainda sobre a importância dos movimentos e pastorais sociais se organizarem e levarem suas pautas para a rua. “Estamos vivenciando um tempo onde nós trabalhadores\trabalhadoras mais perdemos direitos e embora a gente reconheça que o sete de setembro está inserido dentro de uma ‘oficialidade’, precisamos mostrar que somos homens, mulheres, jovens, crianças questionadores, que pensam e acreditam em uma sociedade ‘boa para todos\as’”.
A militante do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Urbanas (MMTU), Marilene Arcari, reforça também que a violência contra a mulher tem aumentado e que esta é uma, entre tantas pautas a ser colocada para discussão. “Participar é uma maneira de conscientizarmos as mulheres e também os homens, que se constroem nesse processo histórico”.
Mesmo sendo um espaço de contradição, a militante do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), Joana Sebben, salienta que a organização já se prepara para anunciar suas pautas no sete de setembro. “É um espaço que está aberto pra gente. Estamos organizados\as e queremos falar sobre nós nas ruas”.
Discussão sobre a mídia
Com base no lema do Grito dos Excluídos\as: “Que país é esse que mata gente, que a mídia mente e nos consome”, as organizações também se questionam sobre “Quem é o maior inimigo do povo hoje?”. Embora seja histórico o processo de exclusão dos povos nos canais midiáticos, os movimentos e pastorais reforçam a denúncia ao conservadorismo que predomina entre os cinco grandes grupos que dominam o que as pessoas ouvem, leem e assistem.
Para aprofundar essa discussão, durante a reunião com as organizações, foi apresentado um vídeo onde a Jornalista Elaine Tavares faz uma provocação e propõe que as pessoas reflitam sobre tudo aquilo que recebem verticalmente da mídia brasileira. No vídeo, ela explica a relação das novelas, programas infantis, programas de rádio com a formação de consciência das pessoas. Ela trata o projeto midiático como sendo um colonizador de mentes.
Em sua fala, a Educadora e representante do Movimento Negro, (Afrodesmo), Isete Carmen Lourenço, traz um exemplo e expõe a real dificuldade de trabalhar em sala de aula a história dos povos da região do Oeste e Extremo-oeste Catarinense. “Os estudantes não sabem. Muitos professores nem querem se esforçar para saber. Então, assistindo esse vídeo percebo que precisamos sim plantar as sementes e não se basear naquilo que nos empurram de cima”, diz ela.
Ao concordar com Isete, o representante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Anderson Munarini, completa dizendo que há uma banalização histórica feita por meio da mídia, em especial da rede globo, para com as diferenças. Ele cita o exemplo de como as novelas retratam a homoafetividade e a mulher. “As novelas mostram que quando uma mulher possui poder, ela precisa agir com maldade, deve ser rígida e inacessível. Se ela for o oposto disso, então ela deve permanecer em casa, cuidando da família e sendo ‘boazinha’. Isso tudo é um verdadeiro golpe”, enfatiza.
O representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Sebastião Vilanova, acrescentou ainda que o ano de 2015 traz um marco importante ao discutir a questão midiática. Ele reforça outras ideias levantadas durante a reunião e enfatiza que além de denunciar, as organizações precisam anunciar suas mídias alternativas. “Precisamos mostrar qual é o Brasil que a gente quer, qual é a cidade que queremos viver e como estamos fazendo isso acontecer”, finaliza.
Encaminhamentos
Após esse diálogo, as organizações devem se reunir novamente em outro espaço para planejarem como as pautas mencionadas durante a reunião serão efetivamente concretizadas nas ruas, no dia sete de setembro.
Texto e Fotos: Claudia Weinman
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