O delegado (D) avisando ao Coronel Jesuíno (C) que será investigado pelo assassinato. Foto:
Divulgação UOL.
Por Maciel Cover
No dia 7 de agosto de
2012 dois fatos aconteceram no Brasil e serão refletidos a seguir. O primeiro
fato é sobre uma lei aprovada no senado federal que beneficiará muitos jovens
pobres. O segundo fato foi o capitulo da telenovela Gabriela, baseado na obra
do genial Jorge Amado. Os dois fatos tem um elemento comum: as leis prejudicam
a ordem natural das coisas!
Todos sabem que
universidade federal no Brasil não é pra pobre, nem pra negro e índio. As
melhores universidades do país, sustentadas pelo dinheiro público, fruto dos
impostos pagos em sua grande maioria pelos trabalhadores, devem garantir o
ensino de qualidade para os filhos das classes que tem mais dinheiro. Essa é
ordem natural das coisas. Foi assim desde o tempo em que o Coronel Ramiro Bastos
mandava e desmandava em Ilhéus no começo do século XX.
Agora o senado aprovou
a lei que estabelece que 50% das vagas das universidades federais sejam
destinadas a jovens pertencentes a famílias que tenham renda até 1,5 salários
mínimos. Demorou! Ainda falta a presidenta Dilma sancionar a lei para que venha
a valer e partir do ano que vem, enfim, a maioria da população brasileira terá
direito a metade das vagas nas federais.
A outra metade das
vagas, é claro, continuará sendo destinada da mesma maneira que acontece nos
dias atuais. Quem tem dinheiro para estudar em escola particular e depois em
cursinho bacana tem mais chances de passar no meritocrático vestibular do que
quem tem que trabalhar o dia todo e estudar a noite num colégio público. Essa seria
a ordem natural das coisas.
Assim como era em
Ilhéus. O Coronel Jesuíno foi traído por dona Sinhazinha, e para lavar sua
honra matou sua esposa adúltera no momento em que ela estava na cama com o
dentista garanhão. Honra se lava com sangue! Porém o delegado quer abrir um
inquérito que pode prejudicar o Coronel Jesuíno. O delegado vem dizer que todos
são iguais perante a lei, e que matar alguém por adultério não é legal. Isso
tem consequências e o Coronel Jesuíno vai ser processado por assassinato. As novas
leis são um problema para manter a moral e os bons costumes afirmou dona
Dorotéia na novela; as novas leis são um perigo para a ordem natural das
coisas.
Essa nova lei que o
senado aprovou também é um problema. Tanto que o magnífico ex-reitor da Unicamp
e atual diretor da FAPESP, o senhor Carlos Henrique de Brito Cruz, em
entrevista ao Jornal Estado de São Paulo(1), afirma que essa lei "É uma
usurpação da autonomia universitária, porque viola o direito de que cada
instituição decida o modelo mais adequado, que tenha mais relação com a sua
tradição de avaliar o mérito acadêmico". Segue algumas perguntas para este
sabido professor.
1.Em nome do mérito
acadêmico devemos continuar excluindo?
2.Essa tradição
acadêmica beneficia a quem?
3.Autonomia universitária
quer dizer deixar os pobres fora da universidade?
Previsível e portanto
menos espantosa foi a declaração do senadorAloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP),
único a se posicionar contra o assunto, considera que essa lei trará "um
abalo muito grande na qualidade de ensino das universidades federais, que já
não andam bem”.
Será que ele quis dizer
que os alunos oriundos de famílias mais pobres são menos inteligentes que os
vindo de famílias mais ricas, e que, portanto para as coisas irem bem, para os
méritos acadêmicos serem de qualidade, devemos manter apenas os filhos de quem
tem dinheiro nas federais? Não creio que ele queira ter dito isso. Fosse na
Ilheús de Gabriela uma frase clara como essa seria mais possível, mas hoje, no
século XXI, acho que jamais um senador que representa o estado mais
desenvolvido do país pensaria uma barbaridade dessas. Não, ele não quis dizer
isso. Me desculpe senador Aloísio, pequei em pensamento contra vossa pessoa.
Tudo bem! É necessário
que nossas universidades federais sejam de qualidade. Isso é consenso. Podemos
refletir sobre duas possibilidades para melhorar o tal mérito acadêmico. Uma
seria de investir mais nas federais: reajustar o salário dos professores e servidores
de acordo com a inflação; estabelecer planos de carreiras; aumentar o número de
vagas; investir mais em laboratórios,
bibliotecas, etc. Investir mais nas escolas públicas, para que os alunos saiam
do ensino médio com melhor formação para o ensino superior.
Outra saída é excluir
os pobres. Fechar os portões das universidades para os filhos de trabalhadores,
negros, indígenas. E por mais absurda que pareça essa segunda proposta, ela é
economicamente viável, é mais barata. Manteria o sistema universitário como
meio de reprodução da ordem social, concentrando o capital educativo nas
classes que tem mais capital econômico. Assim os recursos públicos que deveriam
ir para a educação, se manteriam para alimentar os investimentos do BNDS e do
vergonhoso sistema de amortização da dívida pública que inclusive mantém muitas
famílias ricas, que talvez esse senador e esse ex-magnífico reitor queiram
representar.
As leis prejudicam a
ordem natural das coisas! Isso é bom! Quero ver no ano que vem os alunos com menor
condição financeira nas melhores universidades do país. E também acho que o
Coronel Jesuíno vai se ferrar por seu ato machista ter matado duas pessoas.
Vamos ver no que vai dar!
Notas
(1) Notícia do Jornal
Estado de São Paulo, 8 de agosto de 2012, disponível em
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,ex-reitor-da-unicamp-critica-projeto-de-lei-por-cotas-no-ensino-superior,912891,0.htm
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