Mais de um século após sua invenção, o rádio – na última quarta-feira (13) que no calendário comemorativo tem seu Dia Mundial – contraria as previsões sobre seu fim, mantém-se como veículo de comunicação presente em ampla maioria dos domicílios e mostra capacidade de renovação e adaptação às novas tecnologias.
Paa a professora Sonia Virginia Moreira, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), autora de livros sobre a história do veículo, a sobrevivência e a superação do rádio devem-se principalmente por ele estar sempre aberto, democrático e sensível a todas as transformações ocorridas no mundo desde seu surgimento (leia abaixo).
“É um meio que consegue se adaptar a situações muito distintas. Quando surgiu a televisão, o rádio viveu seu maior momento de crise, mas conseguiu se superar em pouco tempo, renovando a linguagem, como meio de comunicação prestador de serviços e canal de entreternimento. Mais recentemente, o rádio integrado à internet vem comprovar essa maleabilidade do meio”, diz a professora.
O Dia Mundial do Rádio foi instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em 2011. A data, proposta pela Academia Espanhola de Rádio, foi escolhida por ter sido o dia da criação da Rádio das Nações Unidas, em 1946.
Apesar do avanço de novas mídias e da expansão do acesso à internet, o rádio continua sendo um dos principais veículos de informação dos brasileiros. Segundo a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), ele está presente em 88,1% dos domicílios do país, perdendo apenas para a televisão, que tem penetração de cerca de 97%.
O número de aparelhos de rádio convencionais passa de 200 milhões no Brasil, além de 23,9 milhões de receptores em automóveis e do acesso por aparelhos celulares, que somam cerca de 90 milhões. Isso sem falar no acesso às emissoras pela internet, por meio de computadores e smartphones. Aproximadamente 80% das emissoras do país já transmitem sua programação pela rede mundial de computadores.
O Brasil tem aproximadamente 9,4 mil emissoras de rádio em funcionamento, incluindo emissoras comerciais AM e FM e rádios comunitárias. O número é mais que o dobro do registrado há dez anos, segundo dados do Ministério das Comunicações. Nos estados de São Paulo e Minas Gerais estão concentrados os maiores números de emissoras, com 1,4 mil e 1,3 mil, respectivamente.
Quanto à sua presença no restante do mundo, a Global Monitoring Report, ligada à ONU, indica que cerca de 75% dos domicílios dos países em desenvolvimento possuam ao menos um aparelho de rádio e que existem cerca de 44 mil estações transmissoras oficialmente registradas no mundo. Se forem considerados as audições também por computadores e dispositivos móveis, cerca de 70% da população mundial ouve rádio diariamente.
O presidente da Abert, Daniel Slaviero, destaca que o rádio está se adaptando às novas tecnologias para disputar o mercado altamente competitivo da informação e do entretenimento. “Acreditamos no futuro do rádio, não como nossos pais e avós o conheceram, mas inovador, ágil, interativo e com a mesma importância social, eficiência comunicativa e proximidade com as comunidades e os ouvintes. Aos 90 anos de transmissões no Brasil, não há dúvida de que o rádio está em plena reinvenção”, avalia.
Para Cristiano Menezes, gerente-geral das rádios da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), o rádio digital é o futuro, em matéria de tecnologia, mas a linguagem característica do veículo se manterá, por mais que surjam diferentes plataformas. “Há um novo ouvinte, que já procura o novo rádio, pela internet, os vários meios de comunicação hoje se complementam, há toda uma convergência de mídias, a digitalização já se anuncia, é o futuro, mas o veículo será sempre rádio”.
Inventores
Atribuída comumente ao italiano Guglielmo Marconi, a paternidade do rádio é motivo de polêmica. A exemplo do que ocorreu com outras grandes invenções, ela foi fruto de uma sucessão de descobertas e tentativas que, na época, nem sempre alcançaram a devida repercussão. Esse foi o caso do padre gaúcho Roberto Landell de Moura (1861-1928), um pioneiro que o Brasil hoje começa a reconhecer e que antecedeu em dois anos a experimentação de Marconi, datada de 1895.
Alguns anos antes, em 1873, o físico britânico James Maxwell havia constatado a existência de ondas eletromagnéticas que se propagavam pelo espaço. Em 1887, o físico alemão Heinrich Hertz, a partir da hipótese de Maxwell, conseguiu fazer a transmissão e a recepção de ondas eletromagnéticas, ainda que com equipamentos colocados a poucos metros de distância um do outro.
Landell de Moura fez suas experiências pioneiras de transmissão da voz humana em 1892 e 1893, em Campinas e em São Paulo, cobrindo uma distância de 8 quilômetros. Ele também foi inventor do telégrafo sem fio que, a exemplo do rádio, por ele chamado de “transmissor de ondas”, conseguiu patentear, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
“Ele era um sacerdote, uma pessoa recatada, e talvez por isso foi posto de escanteio, à margem desse processo, enquanto o Marconi, um europeu, um acadêmico, conseguiu repercussão para o seu invento e ficou na história como o criador do rádio”, explica o radialista Cristiano Menezes, da EBC.
No Brasil
Como meio de comunicação, o rádio chegou ao Brasil em 1922, pelas mãos do cientista e educador Edgard Roquette Pinto. Ele fez a primeira transmissão no dia 7 de setembro daquele ano, durante a inauguração da exposição internacional comemorativa do Centenário da Independência. Menos de um ano depois, em 20 de abril de 1923, entrava no ar a primeira emissora brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, hoje Rádio MEC, atualmente integrante das rádios da EBC.
fonte/Edição Fábio M. Michel
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