Vimos de todos os cantos desta terra “catarina” para participar do
Seminário Regional sobre o Centenário do Contestado, a convite da CNBB -
Regional Sul IV, que tem como uma de suas prioridades: contribuir e participar
da celebração dos 100 anos do Contestado, . Somos cerca de 50 pessoas representantes de vários movimentos sociais,
populares, universidades, pastorais e dioceses de Santa Catarina.
Este seminário tem como objetivo refletir sobre o movimento do Contestado, desde as suas
raízes, contexto histórico, consequências e atuais heranças, bem como assumir
compromissos e planejar iniciativas em torno da memória, estudos,
religiosidade, cultura e da celebração dos 100 anos do Contestado.
No primeiro dia do encontro, assessorados por Dr.
Delmir Valentini, Dr. Paulo Pinheiro Machado e Pe. Dr. Gilberto
Tomazi estudamos a história, as lideranças e a religiosidade do Contestado.
Contamos também com a partilha de vários depoimentos, tais como o da Sra.
Alzira Prates e Sra. Ezanir Palhano sobre
religiosidade, memórias e experiências vividas em torno de João Maria e do
Contestado.
Todos os
participantes do seminário avaliaram a realidade dos últimos 100 anos de história
no chão Contestado e concordaram que o povo da região tem sofrido por conta da
discriminação, exploração, dos saques, do coronelismo, do desprezo cultural, da
falta de reconhecimento dos valores e tradições religiosas e tantas outras
formas de violências estabelecidas contra os(as) caboclos(as) e outros
descendentes e remanescentes do Contestado.
Lembramos que
a região do Contestado hoje conta com um bom processo de desenvolvimento no
campo científico, tecnológico e industrial. Sua renda per capita está dentro da média do sul do país, todavia o Índice de
Desenvolvimento Humano da região principalmente onde ocorreu o Contestado é dos
mais baixos do sul do Brasil. Os investimentos públicos nas áreas do
desenvolvimento humano, social, cultural e religioso são muito escassos. Essa realidade precisa mudar. Tal como nos
ensinaram os caboclos e caboclas dos redutos do Contestado, precisamos aprender
a viver de acordo com os princípios da igualdade, justiça e solidariedade.
Devemos resistir contra o atual processo de globalização neoliberal capitalista,
causador das desigualdades sociais. E promover alternativas, iniciativas e
processos de economia solidária, valorização da cultura cabocla, socialização
da renda, democratização, reforma agrária, defesa dos territórios e apoio as
lutas pelos direitos dos quilombolas, indígenas, atingidos por barragens,
pequenos agricultores e agricultoras, das mulheres, etc. Também valorizar as
tradições, costumes, sabedoria e religiosidade cabocla, que insistem em manter
viva a memória de “São” João Maria, José Maria, Maria Rosa, de outras
lideranças e do próprio movimento do Contestado.
Para bem
celebrarmos os 100 anos do Contestado, em nosso segundo dia do seminário, nós,
participantes do seminário, assumimos alguns compromissos em torno da memória,
do estudo, da divulgação, da religiosidade, da cultura e da busca de
alternativas para o povo do Contestado, e manifestamos o desejo de todas as
pessoas de boa vontade, entidades, instituições, movimentos, pastorais, somarem
forças nessa empreitada prevista para os próximos 4 anos:
- Resgatar
bibliografias e outros materiais referentes ao Contestado e produzir um folder
ou cartilha (material didático-pedagógico) para tornar melhor conhecido o
Contestado em todo o estado de Santa Catarina, procurando sensibilizar e dar
maior visibilidade ao Contestado, valendo-se de todos os meios de comunicação
possíveis (rádios, folhetos, informativos diocesanos);
- Valorizar o dia
do Contestado, 22 de outubro, para fomentar debates, seminários, fóruns, e
outras iniciativas em torno do Contestado, com maior envolvimento de pessoas,
do poder público e da sociedade civil organizada.
- Identificar
as lideranças, simbologia, arte e mística do Contestado, mapear as fontes,
grutas, locais de batalha, cruzeiros, de São João Maria, como forma de
recuperar a memória e resgatar os princípios que moviam os caboclos e caboclas
dos redutos.
- Promover
mobilizações populares e eventos tais como romarias (especialmente nos locais
de conflito), audiência pública, mostra de cinema, encontros regionais entre
descendentes do Contestado, estabelecendo parcerias para manter viva a memória
do Contestado;
- Promover o
resgate das diversas expressões de religiosidade e cultura do povo do
Contestado; valorizando os grupos de cultura (teatro, dança, música, etc.)
que mantém a memória viva do contestado;
- Firmar a
presença profética da Igreja com as realidades gritantes sofridas pelos
descendentes do Contestado;
- Reivindicar
junto ao Estado a reparação das dívidas sociais para com a população cabocla do
Contestado; propondo a criação de uma lei estadual para o livre acesso aos
locais sagrados e aos pontos de memória do Contestado, tornando patrimônio
público estes locais.
- Viabilizar a
realização do Fórum Social do Contestado, incluindo o Tribunal do Contestado,
como indicativo da 5ª Semana Social Brasileira.
- Aproveitar
os temas das Campanhas da Fraternidade de 2013 e 2014 (juventude e tráfico
humano) incluindo nelas a temática do Contestado;
- Resgatar a
luta pela terra (dos Sem Terra, dos atingidos por barragens...) e de outros
movimentos sociais, relacionando-a com o Movimento do Contestado; e promovendo debates
e enfrentamentos aos grandes projetos capitalistas da região (barragens – pinus
– grandes frigoríficos) e também do sobre o trabalho escravo e a precariedade
do trabalho na região; apoiando projetos de desenvolvimento que visem fortalecer
a identidade e a dignidade dos
descendentes do Contestado.
Estes são alguns compromissos e propósitos dos participantes
deste Seminário. Também, reafirmamos que este programa de ação está aberto para
novas proposições e parcerias na sua realização.
Agradecemos o esforço de todos na realização deste seminário
e contamos com a colaboração de todos e
todas.
“Quem tem mói e quem
não tem mói também, e no final todos seremos iguais.” (dito caboclo do
Contestado)
fonte:Giba
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