*Francisco Alano
A agência norte-americana de risco Standard &Poor’s (S&P), a mesma que avaliou em 2008 como excelentes os títulos hipotecários dos Estados Unidos, às vésperas dos mesmos se tornarem podres e empurrarem o mundo para a maior crise capitalista desde 1929, na data de ontem (09/09) rebaixou a nota de crédito da economia brasileira. Tal fato gerou mais um grande ataque midiático aos interesses dos trabalhadores, reforçando a política econômica equivocada que vem sendo implementada pelo Ministro Joaquim Levy no comando da política econômica do país.
É preciso deixar claro o primeiro fato relevante de todo este teatro armado com maestria pelos interesses do capital internacional: a agência S&P não tem absolutamente nenhuma credibilidade para avalizar a economia de um país grandioso e soberano como o Brasil. Todas as agências de risco do mundo, majoritariamente situadas nos EUA, estão completamente comprometidas com a política imperialista, que vem jogando todo o planeta em uma grande crise humanitária. Desta forma, o rebaixamento da nota de risco, como bem afirmou o senador Roberto Requião, é uma grande chantagem dos interesses imperialistas contra o povo brasileiro.
Chantagem esta que tem objetivo claro: aprofundar ainda mais o ajuste fiscal, garantindo a política de superávit primário e, por sua vez, o pagamento ininterrupto de juros e amortizações para os detentores da dívida, os grandes capitalistas nacionais e internacionais. Já outra parte do ajuste, o corte nas despesas públicas propagado irresponsavelmente pela grande mídia, já tem direcionamento praticamente certo. Programas sociais, direitos previdenciários dos trabalhadores e, por fim e objeto de cobiça dos grandes capitalistas, a volta das destrutivas privatizações, utilizadas com a desculpa esfarrapada de recompor o caixa do governo.
Tudo isso ocorre sem enfrentar o tema do endividamento público e dos juros astronômicos da economia brasileira (permanentemente entre os maiores do mundo). Estes já representam 8% do PIB nacional, corroeram 47% do orçamento federal de 2014 e não param de crescer, podendo fechar 2015 ainda mais próximo dos 50%. Ou seja, qualquer ajuste fiscal sério no Brasil, necessariamente precisa enfrentar a sangria financeira e os interesses que se articulam em torno dela, como a da desprezível agência de risco S&P.
As ações desde que assumiu o ministério e o elogio feito recentemente por Levy à política econômica do governo espanhol – que conduziu o país para um desemprego estrutural de mais de 25% – apontamclaramente a direção ao qual o poderoso Ministro quer conduzir o Brasil. Elevada taxa de desemprego, redução de direitos trabalhistas, privatizações e todo o restante do pacote neoliberal dos anos 90, velho conhecido dos trabalhadores, voltam passo a passo para o centro do debate, em uma articulação internacional e midiática que há tempos não era vista e que pode levar o país a uma verdadeira grande crise.
Se for para fazer ajuste, que o ministro busque taxar grandes fortunas e heranças, aumente os tributos sobre dividendos, busque no lucro e não nos direitos dos trabalhadores a maneira de enfrentar os problemas. Que realize a tão necessária auditoria da dívida pública, que, mesmo prevista na Constituição Federal, nunca foi colocada em prática, garantindo a existência de uma dívida que quanto mais se paga, mais cresce e escraviza o orçamento do Estado – para o orçamento de 2016, os gastos em torno da dívida irão consumir a cifra incrível de R$ 1,7 trilhão. Que cobre a conta de quem realmente está criando as dificuldades da economia, daqueles que, faça chuva ou faça sol, na prosperidade ou na crise, ganham cada vez mais, aprofundando permanentemente a desigualdade social que ainda atravessa a sociedade brasileira.
Enfim, que deixe de seguir as recomendações dosporta-vozes do imperialismo mundial, desprovidos de qualquer credibilidade, e passe a escutar aqueles que realmente conhecem a realidade brasileira e todas as suas contradições: os trabalhadores. Mas aí é pedir demais para um Ministro completamente subserviente aos interessesque muito lucram e conduzem o Brasil para caminhos obscuros e já conhecidos.
*Presidente da FECESC – Federação dos Trabalhadores no Comércio no Estado de Santa Catarina
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