E assim foi Grêmio 2, Cruzeiro 1.
Momentos anteriores de Marco Antônio carimbar a trave. Foto: Maciel Cover
PORTO ALEGRE. (06/10/2012). É diferente de olhar na TV. É mais
emocionante. De repente eu estava ali a poucos metros dos caras que jogam e no
meio da torcida que grita o tempo todo. Minhas noções de futebol profissional construídas
a partir do olho na TV e ouvido na Gaúcha eram limitadas e fantasiosas. Por que
de perto o time do Grêmio joga mais, bem mais.
A saída de bola foi do time do
Grêmio. A bola vai veloz e gruda no pé dos jogadores. Antes da chuva o Grêmio
agride, sobe organizado. Do meio a bola vai pros laterais que devolvem pro
meio. E numa dessas Kleber não tocou, driblou um cara e sofreu falta. Elano
bateu com balaca, num estilo piá metido. Mas ele pode, joga um bolão e na hora
de falar é humilde. Bom, ali Fábio fez a primeira grande defesa. E o Zé Roberto
já correu pra cobrar o escanteio. É tudo
muito rápido e não tem replay.
E o Grêmio dominava o jogo. Ai
começou a chover. O retrancado time do Cruzeiro foi pra cima, Anselmo Ramon
chutou da entrada da área, a bola resbalou no chão e subiu! Pronto, foi gol. No
estádio dava pra ouvir apenas o barulho das trovejadas e da geral, que
continuou a cantar.
O volume de jogo não mudou. A bola
fica na maioria do tempo de posse gaúcha. E de passe em passe o Grêmio chegava
na cabeça de André Lima, e ia pra linha de fundo, espalmada por Fábio. E no escanteio Souza deu a cabeçada a queima
roupa e Fábio encaixou. O goleiro do Cruzeiro foi o cara do primeiro tempo. E o
esquema cauteloso do professor Celso se mostrava eficiente.
Quando o Elano se machucou e saiu
para entrar o Marquinhos começou a chover mais. A chuva foi passando mas a
minha desconfiança no camisa 19 era a mesma. Será que esse cara tem café no
bule para jogar no Grêmio? Bendita desconfiança! Bem aventurado Marquinhos!
Na volta do segundo tempo os
microfones do Estádio Olímpico anunciam: entra Leandro no lugar de Zé Roberto.
As esperanças iam diminuindo. Dos 22 que estavam em campo, e talvez dos 220
titulares entre todos os times do Brasileirão, não existe alguém da qualidade
técnica do Zé Roberto. O cara é demais! Tá sempre no lugar certo e não erra
passes.
O Grêmio começa bem o segundo
tempo. Pressiona. Arrisca. Dribla. Briga. Chuta. Marquinhos cruza na área. A
zaga tira. Leandro dribla na entrada da área. Sofre falta. Barreira formada.
Marco Antonio bate na bola como uma declamação, porém o texto era de tragédia,
a bola em tons poéticos e líricos, beijou a trave e saiu pela linha de fundo.
O cenário tinha tudo pra dar
errado. O Grêmio dominava o jogo, e na hora das finalizações ou era o goleiro,
ou era a trave, ou faltava um centímetro. E a bola não entrava.
Até que Luxa, o velho Luxa, saca
o André Lima e manda pra campo o último coelho da cartola, El Marcelo Moreno. O
boliviano joga demais. Sabe dominar, ganha a frente dos zagueiros, protege e
faz o pivô. E o ataque que antes tinha um gladiador na ativa e um guerreiro imortal
e parado andrelimamente, agora tem um gladiador que protege e toca pra Marco
Antonio, que dessa vez proclama a bola como um Zé Roberto, e derrepente Marcelo
Moreno já estava na cara do gol e os 30 mil gremistas já estavam todos de pé
apreensivos e até os quero-queros na beira do gramado pararam por dois segundos
pra ver o Moreno encobrir o Fábio e empatar o jogo. Ai já era!
Marcelo Moreno comemora com Leandro e Marquinhos. Foto: Lucas Uebel
O clima no estádio mudou mais com
o gol do Moreno, do que propriamente com a parada da chuva ainda no intervalo. Era
uma questão de poucos minutos pra virar.
O Grêmio continuou agressivo,
sempre no campo de ataque. E a cautela excessiva de Celso Roth ajudou o
tricolor. Sacou dois atacantes e colocou dois homens de defesa. Chamou ainda
mais o Grêmio pra cima, que foi, e que aos trinta e três minutos, Marcelo
Moreno driblou, retornou a bola pro Pará que viu o Leandro no flanco. E Leandro
driblou o sentinela cruzeirense, penetrou na área raposeira, meteu um balaço
que Fábio espalmou no pé de Marquinhos, que vinha em alta velocidade e se jogou
para virar o jogo. Marquinhos mereceu. Jogou demais. Marcou, correu, fez
faltas, cobrou faltas, laterais e por fim o gol. Me convenceu!
Marquinhos comemora o gol da virada. Foto: Lucas Uebel.
E a avalanche caiu. E o estádio
explodiu em alegria. E fazia-se justiça. O time que melhor jogava agora também
estava com vantagem numérica no placar.
Nos últimos dez minutos do jogo o
Cruzeiro tentou atacar. Os jogadores do Grêmio mais cansados e agora
satisfeitos, diminuíram o ritmo do jogo. Mas com todos os volantes do Celso em campo, a Raposa não levava perigo, a não ser um chute no final do jogo, de
fora da área, para Marcelo Grohe encaixar.
Os 30 mil torcedores que vieram em
peregrinação em caravanas dos mais variados rincões do Rio Grande e do Brasil
como de São Miguel do Oeste/SC, de Blumenau e Floripa, de Marechal Cândido Rondon/PR, de Vitória/ES e
até de Campina Grande/PB viram um time que luta até o final. Dois laterais
firmes. Um meio de campo e um ataque brigador e afinado e um Luxemburgo que
mais uma vez mexeu no time e no placar.
A alma do Velho Casarão Olimpico faz pequenos Leandrinhos e
Marquinhos se agigantarem.
Justiça era uns 4 a 0 pro Grêmio.
Mas o futebol não é justo, o futebol é futebol.
Justiça seria esse super time ser campeão, nos dá esperanças! Mas
futebol é futebol!
Por @macielcover
Veja a felicidade dessa criança ao conhecer o Estádio Olímpico e ver seu time vencer.
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